segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Tempo de mudança

Não é resolução de fim de ano. Não é uma simples decisão. É um fato: eu mudei. E aí você para e pensa: “ué, mas todo mundo muda”. Obviamente. Todo mundo muda, o tempo todo. A questão é que eu gosto de quem eu sou e do caminho que to seguindo nesse momento, e eu nem lembro quando foi a última vez que eu me senti assim.

Não vou discorrer aqui sobre todos os aspectos da minha vida, nem vou me desfazer em devaneios sobre como uma parte do teu mundo pode desmoronar enquanto outra parte se constrói. A vida é assim, todos conhecemos. Esse post é pra definir um marco: acabou a fase da melancolia azul. Inicia-se uma nova fase. Esse blog, eu, minha vida.

Chuva de Espinhos sobre o coração
Faz sangrar no fundo e a ilusão
Não tem mais sentido não tem mais lugar
Numa vida cheia limpa como o ar
Vou correr para as nuvens
Já que a vida corre e o tempo não se vê
Faça tudo simples olhe p'ra você
Mude de idéia se esse for o caso
Deixe entrar um pouco d'água no quintal
Fique em pé sem se cansar
Quanta coisa de errado eu já fiz
Tudo está gravado em algum lugar
Já é hora de equilibrar. Mutação

Foi por culpa minha o que eu deixei passar
Quanto mais se dorme menos tem p'ra dar
Mexa-se rapaz não deixe de entender
Abra bem os olhos para o amanhecer
Faça força irmão não morrer
Deus criou os anjos para nos guiar
Dê um pouco o braço deixe um pegar
Não se desespere com a escuridão
Abra a mente deixe entrar a inspiração
E o que é bom vem depois
Muita estrada em minha vida já andei
Quase nem senti o rumo que tomei
Não sou mais não sou menos

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Dai-me outra cor, dai-me o amor, dai-me uma dor

Outro dia eu tava almoçando em casa - o que é algo a se comemorar -, e tava passando um desses programas de esporte da Globo. Eles estavam falando sobre Slackline, sabe? Uma nova brincadeira, que aqueles malucos ficam se equilibrando em cordas bambas, e agora eles resolveram fazer isso em lugares cada vez mais altos. Enfim, o que eu queria dizer é que tinha esse cara no estúdio, não lembro o nome dele, mas ele me fez lembrar de ti. Ele tinha exatamente o teu jeito. Mesma pose, com o rosto levemente levantado, como quem olha por cima, os olhos meio fechadinhos, e o sorriso… caramba!, o sorriso era o teu. Do jeitinho que eu lembro. Simplesmente igual.

Foi estranho. Eu nunca mais tinha pensado em ti. Se a gente não contar a Feira do Livro, claro, mas aí não vale, foi lá que a gente foi da última vez, lembra? Ano passado, pro show do João Bosco. Seria impossível não lembrar de ti ao ir pros shows desse ano. Já comecei a pensar em ti no meio do caminho. Te ver no dia do Gilberto Gil, aliás, não estava realmente nos meus planos. Falar contigo, no dia do Lenine, então… Isso não poderia fazer bem pra minha resolução de não pensar mais em ti.

Mas eu me comportei bem. Fingi que te ver era perfeitamente natural, e que perceber teus olhares não me causava efeito algum. Foi difícil… Então, talvez por uma providência divina, eu acabei te perdendo no meio da confusão de gente antes que toda a coisa do fingimento falhasse desastrosamente, e consegui sair daquela noite ilesa. Praticamente. Afinal, eu passei dois ou três dias pensando em ti, e ainda esperei te encontrar na noite do show do Móveis Coloniais de Acaju, como a perfeita idiota que sou. Mas, como eu disse, a Feira do Livro não conta, e eu voltei a não pensar em ti, até ver o cara do programa de esportes quando fui almoçar em casa.

E eu não gostei de lembrar de ti. Não gosto. A nossa historia não é o que a gente pode chamar de uma bonita história de amor. Não foi amor. Não foi bonita. E eu não consigo pensar em um motivo racional pra sentir o que eu sinto quando se trata de ti, e talvez tenha que ser assim, irracional mesmo. Mas qual o sentido? Uma amiga diz que não existe esse negócio de gostar de alguém se esse alguém não te dá motivos pra isso, e mesmo assim, cá estou eu, pensando em ti e me perguntando se tu vais estar no show do Mombojó, hoje. Lembra? Era o que tava tocando no teu carro da última vez…

(To sem áudio aqui no estágio, logo não sei se a qualidade desse vídeo é das melhores. Espero que sim. =P)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Do outro lado da tarde

Em janeiro desse ano, eu comprei o pocket O Ovo Apunhalado, do Caio Fernando Abreu, pra me acompanhar na viagem pro Rio de Janeiro. Eu nunca tinha lido mais do que poucas palavras dele, quase todas por causa de uma amiga viciada em caio f., e estava curiosa, logo, comprei o livro. Este, que ainda guarda um ticket do dia que fui ao Corcovado, ficou encostado, perdido entre outros dos meus amigos de papel, principalmente porque não tinha encontrado toda essa magnificência nos textos dele. Até hoje, 20 de setembro de 2010, quando peguei o livro pra ler mais alguns de seus contos, e me deparei com Do outro lado da tarde, penúltimo conto do livro. E foi um tapa na cara. Juro. Eu queria que esse texto fosse meu.

Sim, deve ter havido uma primeira vez, embora eu não lembre dela, assim como não lembro das outras vezes, também primeiras, logo depois dessa em que nos encontramos completamente despreparados para esse encontro. E digo despreparados porque sei que você não me esperava, da mesma forma como eu não esperava você. Certamente houve, porque tenho a vaga lembrança – e todas as lembranças são vagas, agora –, houve um tempo em que não nos conhecíamos, e esse tempo em que passávamos desconhecidos e insuspeitados um pelo outro, esse tempo sem você eu lembro. Depois, aquela primeira vez e logo após outras e mais outras, tudo nos conduzindo apenas para aquele momento.

Às vezes me espanto e me pergunto como pudemos a tal ponto mergulhar naquilo que estava acontecendo, sem a menor tentativa de resistência. Não porque aquilo fosse terrível, ou porque nos marcasse profundamente ou nos dilacerasse – e talvez tenha sido terrível, sim, é possível, talvez tenha nos marcado profundamente ou nos dilacerado -  a verdade é que ainda hesito em dar um nome àquilo que ficou, depois de tudo. Porque alguma coisa ficou. E foi essa coisa que me levou há pouco até a janela onde percebi que chovia e, difusamente, através das gotas de chuva, fiquei vendo uma roda-gigante. Absurdamente. Uma roda-gigante. Porque não se vive mais em lugares  onde existam rodas-gigantes. Porque também as rodas-gigantes talvez nem existam mais. Mas foram essas duas coisas – a chuva e a roda-gigante –, foram essas duas coisas que de repente fizeram com que algum mecanismo se desarticulasse dentro de mim para que eu não conseguisse ultrapassar aquele momento.

De repente, eu não consegui ir adiante. E precisava: sempre se precisa ir além de qualquer palavra ou de qualquer gesto. Mas de repente não havia mais depois: eu estava parado à beira da janela enquanto lembranças obscuras começavam a se desenrolar. Era dessas lembranças que eu queria te dizer. Tentei organizá-las, imaginando que construindo uma organização conseguisse, de certa forma, amenizar o que acontecia, e que eu não sabia se terminaria amargamente – tentei organizá-las para evitar o amargo, digamos assim. Então tentei dar uma ordem cronológica aos fatos: primeiro quando e como nos conhecemos – logo a seguir, a maneira como esse conhecimento se desenrolou até chegar no ponto em que eu queria, e que era o fim, embora até hoje eu me pergunte se foi realmente um fim. Mas não consegui. Não era possível organizar aqueles fatos, assim como não era possível evitar por mais tempo uma onda que crescia, barrando todos os outros gestos e todos os outros pensamentos.

Durante todo o tempo em que pensei, sabia apenas que você vinha todas as tardes, antes. Era tão natural você vir que eu nem sequer esperava ou construía pequenas surpresas para te receber. Não construía nada – sabia o tempo todo disso -, assim como sabia que você vinha completamente em branco para qualquer palavra que fosse dita ou qualquer ato que fosse feito. E muitas vezes, nada era dito ou feito, e nós não nos frustrávamos porque não esperávamos mesmo, realmente, nada. Disso eu sabia o tempo todo.

E era sempre de tarde quando nos encontrávamos. Até aquela vez que fomos ao parque de diversões, e também disso eu lembro difusamente. O pensamento só começa a tornar-se claro quando subimos na roda-gigante: desde a infância que não andávamos de roda-gigante. Tanto tempo, suponho, que chegamos a comprar pipocas ou coisas assim. Éramos só nós dois na roda-gigante. Você tinha medo: quando chegávamos lá em cima, você tinha um medo engraçado e subitamente agarrava meu braço como se eu não estivesse tão desamparado quanto você. Conversávamos pouco, ou não conversávamos nada – pelo menos antes disso, nenhuma frase minha ou sua ficou: bastavam coisas assim como o seu medo ou o meu medo, o meu braço ou o seu braço. Coisas assim.

Foi então que, bem lá em cima, a roda-gigante parou. Havia uma porção de luzes que de repente se apagaram – e a roda-gigante parou. Ouvimos lá de baixo uma voz dizer que as luzes tinham apagado. Esperamos. Acho que comemos pipoca enquanto esperamos. Mas de repente começou a chover: lembro que seu cabelo ficou todo molhado, e as gotas escorriam pelo seu rosto exatamente como se você chorasse. Você jogou fora as pipocas e ficamos lá em cima: o seu cabelo molhado, a chuva fina, as luzes apagadas.

Não sei se chegamos a nos abraçar, mas sei que falamos. Não havia nada para fazer lá em cima, a não ser falar. E nós tínhamos tão pouca experiência disso que falamos e falamos durante muito e muito tempo, e entre inúmeras coisas sem importância você disse que me amava, ou eu disse que te amava – ou talvez os dois tivéssemos dito, da mesma forma como falamos da chuva e de outras coisas pequenas bobas e insignificantes. Porque nada modificaria os nossos roteiros. Talvez você tenha me chamado de fatalista, porque eu disse todas as coisas, assim como acredito que você tenha dito todas as coisas – ou pelo menos as que tínhamos no momento.

Depois de não sei quanto tempo, as luzes se acenderam, a roda-gigante concluiu a volta e um homem abriu um portãozinho de ferro para que saíssemos. Lembro tão bem, e é tão fácil lembrar: a mão do homem abrindo o portãozinho de ferro para que nós saíssemos. Depois eu vi o seu cabelo molhado, e ao mesmo tempo ainda dissemos um para o outro que precisávamos ter muito cuidado com cabelos molhados, e pensamos vagamente em secá-los, mas continuava a chover. Estávamos tão molhados que era absurdo pensarmos em sairmos da chuva. Às vezes, penso se não cheguei a estender uma das mãos para afastar o cabelo molhado da sua testa, mas depois acho que não cheguei a fazer nenhum movimento, embora talvez tenha pensado.

Não consigo ver mais que isso: essa é a lembrança. Além dela, nós conversamos durante muito tempo na chuva, até que ela parasse, e quando ela parou, você foi embora. Além disso, não consigo lembrar mais nada, embora tente desesperadamente acrescentar mais um detalhe, mas sei perfeitamente quando uma lembrança começa a deixar de ser uma lembrança para se tornar uma imaginação. Talvez se eu contasse a alguém acrescentasse ou valorizasse algum detalhe, assim como quem escreve uma história e procura ser interessante – seria bonito dizer, por exemplo, que eu sequei lentamente seus cabelos. Ou que as ruas e as árvores ficaram novas, lavadas depois da chuva. Mas não direi nada a ninguém. E quando penso, não consigo pensar construidamente, acho que ninguém consegue. Mas nada disso tem nenhuma importância, o que eu queria te dizer é que chegando na janela, há pouco, vi a chuva caindo e, atrás da chuva, difusamente, uma roda-gigante. E que então pensei numas tardes em que você sempre vinha, e numa tarde em especial, não sei quanto tempo faz, e que depois de pensar nessa tarde e nessa chuva e nessa roda-gigante, uma frase ficou rodando nítida e quase dura no meu pensamento. Qualquer coisa assim: depois daquela conversa – depois daquela nossa conversa na chuva, você nunca mais me procurou.

Por Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Eu preciso andar um caminho só…

É sempre assim. E eu nem sei porquê isso acontece. Juro. Eu queria tentar de verdade. Queria ter coragem pra deixar as coisas acontecerem, mesmo que essas coisas não sejam exatamente boas. Elas seriam reais, pelo menos… não seriam essa coisa que nem ao menos é. Porque não é. Isso não é nada que eu consiga entender. E eu não gosto disso.

Não, eu sei que não é exatamente tua culpa. Não que tu também não tenhas culpa. Tu tens. Mas eu complico. Eu sou doida mesmo. Morro de medo, e nem ao menos consigo assumir isso. E já me acostumei tanto a fingir que não me importo, já fiz o papel por tanto tempo, que até eu acredito. Nem mesmo consigo enxergar o que escondo de mim mesma. Essa é a questão.

Eu já não sei mais o que é verdade e o que eu invento. Já to nessa porcaria de círculo vicioso há tanto tempo, que já não sei mais o que é real. Não sei se a verdade é que eu te amo. Não como eu sempre te amei. Amor de Amor, mesmo. De mãos dadas. De abraço que conforta. De me sentir só, e não querer nada além de ti. Mas também não sei se eu te amo assim por me sentir só, e só conseguir ver a solução disso em ti, e aí não precisar de nada além de ti.

E, enquanto eu penso nisso, bate o desespero. A covardia. Porque se eu preciso de ti, eu não posso te ter. Porque eu sou incapaz de precisar e me permitir. Porque isso dói, sabe? Precisar faz mal. Aí eu sofro. E isso também dói. Então eu passo dias sem querer te ver, pra me acostumar com o fato de não te ter. O ser humano é facilmente condicionado, como a gente sabe. Então eu resolvo me desacostumar, não gostar tanto da tua presença. Logo tudo em ti me irrita, e eu não quero mais ir onde eu possa te encontrar.

Mas isso é impossível. Invariavelmente, eu acabo te encontrando. E estar contigo por algumas horas me faz lembrar que tu não me irritas coisa nenhuma. E eu volto a te amar daquele jeito de sempre. Aquele do início de tudo, quando não era complicado, lembra? E eu volto a me sentir confortável ao teu lado. Aquele conforto que eu só pareço sentir contigo. De besteiras naturais e sorrisos fáceis. Volta a ser naturalmente… fácil. Como se tu fizesses parte da minha vida da uma forma tão natural, que seria inconcebível se fosse diferente.

E aí eu me sinto só, e volto a te amar do jeito que me dá medo. Ou eu volto a te amar de Amor, e me sinto só, e acabo ficando com medo. Não sei. Viu? É disso que eu to falando. Eu não sei o que é isso. E já faz um tempo que eu não faço a menor ideia do que seja isso. E, caramba, eu to realmente cansada de não saber. Porque não adianta eu ficar dizendo que tu és uma coisa, se essa coisa é só uma parte desse tudo que não sei o que é. E eu queria definir essa coisa. De uma vez, sabe? Porque eu não gosto do cacete desse não saber. De não ir, nem ficar. De ter e não ter. E, na verdade, não ter porra nenhuma. Porque, na verdade, na verdade mesmo, não importa em que fase dessa coisa eu esteja, eu to sempre só.

*  * *  * *

Só podia sair algo assim de um texto escrito ao som de Los Hermanos, álbum Quatro…

Primeiro Andar – Los Hermanos

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Blind date às avessas

Os finais de semana de julho, aqui em Belém, não são o que a gente pode chamar de “Paraíso do Entretenimento”. A exemplo disso, posso citar que a única rede de cinema da cidade, que aliás é medíocre, inaugurou recentemente a primeira sala de execução em 3D. Pois é, impressionantemente triste, não? Mas, como pouco é melhor que nada, e eu tive que ficar e me virar com as opções da cidade das mangueiras, sábado eu estava lá, vendo Shrek.

Muito bem. Eu sempre fui uma pessoa bastante confortável com a minha condição de solteira, portanto, quando uma amiga me ligou para ir ao cinema com ela e o namorado, aceitei prontamente. Claro que o fato de que eles não são desses casais grude-chengonhengonhengo contribuiu muito para a minha aceitação, mas... Exatamente, tinha um “mas” na história: eu não fui a única amiga convidada para a noite de cinema, existia outro… casal!

Tudo bem, eu posso ser muito moderna e tranquila com a minha solteirice, mas eu nem tenho intimidade com o outro casal!  Confesso que fiquei um pouco nervosa… ansiosa, que seja. Como se eles tivessem arranjado um blind date sem me avisar. Isso não se faz! Pô, não existe um código de conduta a ser seguido, quando a gente leva um amigo solteiro pra algum lugar? E se eles forem do tipo insuportável? Daqueles que todo e qualquer solteiro, por mais bem resolvido que seja, queira enfiar uma bala na sua cabeça, ou na de cada um daqueles seres irritantemente felizes com vozinha de bebê?

Mas eu não me intimido assim tão fácil. Repassei os poucos momentos que tive com o casal em questão, e me convenci de que eles eram satisfatoriamente civilizados. Juntei isso com outras informações que tinha – como os seus 5 anos de namoro –, e concluí que aquela noite não seria um martírio, que poderia ser até interessante. Ora, eu nem teria que interagir tanto com eles. Era um filme, depois que as luzes apagam, conversar é até falta de educação. Então eu fui, despreocupada.

Enquanto estávamos na fila, passei por alguns momentos constrangedores. Como quando encontrei um amigo… com a namorada. E outra amiga… com o namorado. Outros de desespero. Como quando constatei o número absurdamente irreal de casais no recinto. Dia de casal ir ao cinema não é domingo?! Pelamordideus, mundo, vê se colabora! Eu to tentando manter a cabeça erguida aqui, ok? Mas, logo, eu havia superado o desafio da fila, e já estávamos devidamente instalados nas cadeiras do cinema – eu de um lado do casal-amigo, e eles do outro, claro. Mais algumas conversinhas, e a luzes apagaram.

Saindo do cinema, com fome e vontade de comer algo diferente, eu já me resignara com ideia de comer um x-geladeira em casa, enquanto os dois casais discutiam se e onde jantariam. Até que, quando eu menos esperava, o namorado do outro casal disparou a pergunta pra mim: quer ir? Eu gaguejei, claro, fiquei vermelha, e tenho certeza que balbuciei alguma coisa incompreensível ao negar a imposição da minha presença no double date deles.

Quando eu fiquei sozinha com o casal amigo, eles começaram a insistir na ideia do jantar. O namorado-amigo até jogou na minha cara que eu tinha dito que queria jantar no Roxy, e, meu Deus, eu realmente queria! Então fui. E fiquei um pouco tímida quando pedimos mesa pra cinco. Fiz minhas continhas e fiquei um pouco triste quando percebi que não tinha ninguém pra dividir o prato comigo. E fiquei incrivelmente envergonhada quando o namorado-amigo sugeriu que pedíssemos dois pratos e dividissemos por três. Mas foi tudo superado, e eu voltei pro meu conforto solteirístico.

O outro casal se mostrou mais que civilizado. Eles eram até interessantes. Inteligentes, papo bacana, sem chengonhengonhengo. O jantar acabou, a conta foi paga e as despedidas feitas. Voltando pra casa com o casal amigo, o namorado-amigo solta:

- É… até que o Fulano tá mais suportável. Já dá pra passar uma noite bacana com ele…

Ah, então eu tive sorte?

terça-feira, 29 de junho de 2010

Afinal, o que é isso?

- Oi. – diz ela, entrando no carro.
- Oi, tudo bem?
- Uh-hum, e contigo?
- Cada vez melhor.
- Isso é bom. Aonde a gente vai?
- Tu decides.
- Hum, cadê o resto dos amigos?
- Hoje, seremos só você e eu.
- Certo... E a gente quer o quê?
- A gente quer o que tu quiseres.
- Bruno.
- Quê?
- O que tu queres?
- Já disse, tu que sabes.
- Eu não to falando do lugar que a gente vai.
- Hum… Não?
- Não.
- Então sobre o quê?
- Sobre o que tá acontecendo. Eu to interpretando as coisas de uma forma, e quero saber se posso continuar assim, ou se devo parar de levar tudo o que tu dizes pro lado que eu quero.
- E que lado é esse?
- Acho que to distorcendo as coisas, mas...
- Mas...?
- Mas esquece. Vamos pro Old School. Hoje é dia de Beatles.
- Lia.
- Hum?
- Mas?
- Ok, é melhor resolver isso logo, né? Odeio ficar nessa dúvida, alimentando algo que talvez nem exista. Se é pra saber, é melhor que eu saiba de uma vez.
- Lia, tu estás tagarelando.
- Ai, eu sei. To nervosa.
- Por quê? - e ele leva a sua mão pra dela.
- Por isso.
- Isso o quê?
- Isso! - sacudindo as suas mãos unidas, fazendo com que ele retire a sua mão.
- Desculpa, não sabia que te incomodava.
- Não incomoda - e busca a mão dele novamente -, só me deixa mais confusa... E eu só queria saber o que significa...
- É essa a questão?
- É. O que isso significa?
- Se eu disser mais uma vez que tu decides, eu corro algum risco de morte?
- Hahahaha, talvez. Porque eu quero que tu decidas o que tu queres.
- Então eu quero isso.
- Isso o quê?
- Isso. - puxando-a para si, buscando a sua boca, mostrando e reclamando o que quer. E ela permite, afinal, era exatamente isso que ela queria.

Quem quer saber onde se vai, quando quem está justamente onde deveria estar?

 

domingo, 27 de junho de 2010

Era u… a minha vez.

Desacreditada. Era assim que me sentia depois de tanto tempo sem encontrar alguém que valesse à pena. A verdade é que eu tava cansada de tanta insignificância. Já esperava algo mais havia um bom tempo, mas esse “mais” parecia que não tinha a menor vontade de vir. E eu cansei. Já não procurava. Nem esperava… simplesmente seguia com a vida. Saia, ria, brincava e voltava pra casa, sem pensar em como aquela noite poderia – ou deveria? – ter sido bem diferente.

Por muito tempo, eu me perguntei se o problema tava em mim. Afinal, o que eu tenho de errado? Bom, talvez eu fosse errada mesmo. E não tinha mais vontade de inventar desculpas para minhas noites sozinha. “Eles tem medo de minha independência e segurança”, “eu intimido as pessoas”, “eu sou muito alta”. Desculpas. Eu podia até não querer pensar assim, parecia psicologia barata aplicada pelas amigas, mas eu sou muito praqueles que tinham passado pela minha vida. Pra quê negar?

Pessoas vazias. De algum modo, vazias. Eu sabia que não era exatamente o que precisava, mas teimava em dar uma chance. Às vezes duas, três… Por que não ver o que acontece? E eu sabia muito bem o que aconteceria, mas sempre esperava pra ver. O fim. Aquele completamente desnecessário. E seguia tentando me agarrar aos restos e migalhas daquilo que desejava tanto que fosse o que procurava. Enganando-me, descaradamente. Até que cansei. Desacreditei. E, lógico, perdi um pouco do brilho, sabe? Da vontade. É triste sentir que nada adianta…

Mas foi assim, nessa confusão de sentimentos, que eu te encontrei. Foi estranho pensar que finalmente poderia ser a minha vez. Depois de tanto tempo vendo e aconselhando os outros, ponderando e imaginando o que eu faria se fosse a minha vida, a minha história de amor, cheia de altos e baixos, como toda boa história deve ser. E eu pensei “e agora? O que eu faço?”. O medo que senti, nem consigo descrever... Fiquei apavorada. Quase me escondi em casa, e esperei passar. Mas como fugir de ti?

E é engraçado sentir que tu és justamente o que eu queria, até porque eu nem me lembro de pensar em como tu serias. Logo tu. Mas é tão fácil. É simplesmente claro ver o quanto cada detalhe teu encaixa perfeitamente com aquilo que me falta. A tua calma, teu jeito caladão. Sempre tentando ser justo, evitando julgar os outros. Correto, com a pitada quase certa de loucura. Como eu nunca tinha visto isso? E pensar que eu só te achava bonito… Talvez tenha sido aquele velho preconceito que tu falaste. Mas que culpa eu tenho se as minhas experiências me ensinaram a desconfiar do bonito?

Mas, quer saber? Ainda bem. Ainda bem que eu tenha passado por tudo o que passei. Ou que eu não tenha te visto antes. Talvez eu tivesse feito besteira. Talvez, se eu não pensasse como penso hoje, eu teria te deixado passar. E talvez, por isso, eu não estivesse vivendo a minha, finalmente minha, história de amor. E eu nem quero saber o que vai acontecer amanhã. Pela primeira vez, eu não me preocupo em fazer projeções. Não quero pensar no que pode vir, porque isso não me importa. O que eu tenho agora me basta.

* * * * *

Incubus – Wish You Were Here

domingo, 23 de maio de 2010

Vai sonhando...

Ouvindo: Norah Jones, Feels Like Home

Desde pequena, Lia sonhava acordada. Não importava a confusão que estivesse o mundo, Lia sonhava. Sempre que deitava a cabeça no travesseiro, antes mesmo de fechar os olhos, já se via em outra história, em outra vida. Ou mesmo sem deitar, sem travesseiro, sem conforto, não importava, sonhar era a palavra de ordem, bastava acordar. Afinal, seus sonhos ao dormir, nada eram quando comparados com seus loucos devaneios.

Sonhava de tudo e com tudo. Em viver nos mares, ser sereia, com seu príncipe encantado que não era humano, mas um belo tritão. Sonhava ganhar os céus, sair pela janela do quarto e voar até a escola, onde tudo era divertido. Sonhava ser amiga do Gasparzinho, e ficar com o Devon Sawa no final do filme. Sonhava com a visita de uma coruja, descobrir que era uma bruxa, estudar em Hogwarts, e ser amiga do Harry, claro.

O tempo passava, e Lia ainda sonhava. Fez intercâmbio nos Estados Unidos, onde conheceu Matthew, seu melhor e mais amado amigo imaginário, que morreu em um acidente de carro, e Lia, acordada, chorou sua perda. Sofreu por seu inventado amigo, que mesmo após a morte, voltou pra visitá-la. Ora, o sonho era dela, ele voltava quantas vezes ela quisesse, sem contar que ele prometeu que não a deixaria...

Já morou na Califórnia, onde dividiu apartamento com Josh Hartnett, e foi amiga do Chad Michael Murray, vivendo um triângulo amoroso digno de Hollywood. Teve um pequeno apartamento em Londres, trabalhou num coffee shop, e acabou numa conturbada relação com o Príncipe Harry. Já impressionou Jude Law, e teve um caso com Johnny Depp.

Já casou com o surfista dos seus sonhos – mas esse não era imaginário, era real, porém inalcançável. Conquistou seu primeiro amor platônico. Foi traída, e deu a volta por cima. Vivenciou as mais hilárias aventuras, e passou pelos mais dramáticos momentos. O seu humor ditava o rumo dos sonhos. Perdeu o controle. Manteve o controle. Quebrou todo o quarto. Correu na praia, na chuva, no campo, feliz, com ele. Fez de tudo, mas não fez nada.

Imaginação, Lia tinha. Andar por todos os cantos do mundo, ela conseguia, mesmo que sentada na cozinha de casa. Mas a vida... essa não era tão fácil. Essa era bem difícil de controlar. E Lia passou a fugir pros sonhos, que ficavam cada vez mais embaçados. Ela não conseguia mais se ver longe. Não encontrava mais conforto nos encantos da sua mente. Lia estava cansada. Não encontrava mais combustível para os sonhos. E eles acabaram. Lia não mais sonhava.

Perdida, sem raízes ou planos, Lia vendeu o que tinha, botou uma mochila nas costas, juntou seus sonhos, escolheu o primeiro destino e, enfim, saiu pra vida.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Autossabotagem

Lia era uma menina tímida e nada comum. Não por fora, mas por dentro. Sua aparência, sim, era normal. Estatura média. Cabelos rebeldes e olhos curiosos, tudo com uma cor de chocolate ao leite derretido. Nem gorda, nem magra. Normal. Mas sua personalidade... Era bem difícil encontrar alguém que a pudesse entender.

Talvez nem fosse por falta de tentativa. Tinha algo em Lia que realmente aproximava as pessoas. Mas ela não se mostrava facilmente. Como eu disse, ela era tímida. Muito tímida. E, por conta disso, disfarçava essa timidez com sorrisos e atrevimentos - estes últimos, nem sempre bem recebidos. Assim era mais fácil. Como uma capa protetora, evitando que qualquer um entrasse e fizesse o que bem entendesse.

Quem visse Lia, deparava-se com uma garota alegre, segura e autosuficiente. Sempre disposta. Raramente intimidada. Ninguém podia realmente enxergar seus momentos de tristeza e insegurança. Ninguém sabia o quanto se apoiava e encontrava força em seus amigos. Muitos sentiam-se intimidados por ela. Poucos conheciam suas fraquezas.

Não que tudo fosse uma farsa. Lia possuía um pouco de cada dentro de si. Força e fraqueza. Timidez e segurança. Medo e coragem. Era apenas uma questão de escolha do que mostrar. E ela só mostrava as partes que lhe convinham. Raros eram aqueles que conheciam Lia como um todo. E ela adorava fingir que nem esses podiam ver o que escondia.

Mas algo estava errado, e ela podia sentir isso. Por mais que tivesse... medo, Lia queria que a conhecessem. Queria alguém que a entendesse, e gostasse do que visse. Ansiava por alguém com quem dividir o seu todo. Sem restrições. E estava cansada de ver o quanto as suas próprias barreiras anulavam qualquer chance disso acontecer.

Lia queria alguém.

Mas Lia não sabia como manter esse alguém por perto...

* * * * *

PS: Foi difícil usar esse título. Ainda não me acostumei com esse novo acordo ortográfico. :S

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Os tempos são outros, meu bem.

- Tu és tão legal, que tu viras amiga.

Ouvi isso de uma amiga, uma vez, e fiquei pensando: "como assim?”. Namoradas/gatinhas não são legais? Elas são só menininhas bonitas e femininas, feitas sob medida para que o macho alfa seja o responsável por sua proteção e cuidado? São incapazes de formular frases inteligentes e engraçadas ou rir com o namorado/gatinho por um bom tempo? Caramba, isso é tão século passado!

A meu ver, um gatinho só é gatinho de verdade se me fizer rir. Claro que eu não to procurando um palhacinho de circo pra manter um relacionamento, mas também não tenho tendências "robófilas". Ora, quem quer namorar um cara que não saiba sequer contar uma piada de pontinho? - Tá, piadas de pontinhos são terríveis, mas deu pra entender o meu ponto, não?

Eu não sei o que as pessoas procuram, mas eu não quero alguém que seja simplesmente bonito e másculo. Não sou o tipo clássico de mulher, logo não procuro homem pra fazer o velho "papel de homem", que me proteja das mazelas da sociedade, defenda a minha honra, me banque e me faça pegar cerveja e servir salgadinho pros amigos dele. Foi-se o tempo que isso era ser homem.

Mulher, hoje em dia, se vira muito bem, obrigada, e muito do que a gente espera do sexo oposto é mais pra que eles não se sintam tão desnecessários. Até porque, convenhamos que desnecessários eles não são. É lógico que continuam sendo importantes, mas de outra forma.

Eu não preciso que ele seja de aço, forte e musculoso como o Superman, e sim inteligente. Preciso que a gente venha a somar na vida um do outro. Que ele fale e escreva direito, e seja minimamente educado. Ora, eu sei que as pessoas arrotam, mas precisa executar a Sinfonia nº 27 de Bach no meio do jantar de aniversário do meu irmão? A temporada dos ogros já se foi, há tempos! Sejamos civilizados, sim?

Também não to pedindo um cara que abra a porta do carro pra mim. Isso é muito fácil! O último gatinho que fez isso me largou sem dó nem piedade, simplesmente porque eu não quis dar pra ele (tentem não se ofender com o termo). Então, ao invés de me aparecer vestindo a roupinha de cavalheiro de 1820, tente valer a pena, ok? Isso não é pedir muito.

Agora, sejamos sinceros: "dinheiro é bom, e todo mundo gosta". Mas não, não é necessário que ele seja herdeiro do Eike Batista, e me sustente pro resto da vida. Eu pretendo construir minha bem sucedida carreira profissional e ter meu próprio dinheiro. Mas, também, ele não pode ser um vagabundo esperando ser sustentado. Não sou mãe de ninguém, e meu filho que não se iluda, porque nem ele vai ficar eternamente nas minhas costas. Independência financeira é uma benção, portanto, devidamente abençoado seja.

Por fim, é extremamente importante que os homens entendam: gatinha/namorada/mulher não é serviçal de ninguém. Eu não tenho a menor obrigação de ficar responsável pelo bom atendimento dos seus amigos, quando o meu gatinho/namorado/marido resolve recebê-los para uma maravilhosa partida de futebol. Não to dizendo que sou imprestável ou incapaz de fazer um favor, vez ou outra, mas não me faça de escrava! Eu ajudo, contanto que todo mundo colabore. Portanto, homens, façam o favor de levantar essa buzanfa do sofá e fazer alguma coisa útil, certo?

Então? Deu pra entender? As coisas mudaram, meus queridos. Não pensem que teremos uma vida parecida com as dos nossos avós. Felizmente, pelo menos nessa questão, o mundo mudou pra melhor. Não espero que a mentalidade masculina, no geral, tenha evoluido da mesma forma, mas eu sei que tem aqueles que se salvam. E ainda vou topar com um deles por aí...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Contando com o Tempo

Sentada em uma das cadeiras de plástico da churrasqueira do seu prédio, Lia esperava Daniel. Diferente de todas as vezes que fizera isso, a angústia e tristeza que anteviam aquele encontro a dominavam. Ela engolia em seco, tentando fazer com que aquele nó da garganta descesse goela abaixo de uma vez por todas. E quando Daniel surgiu pela entrada da área da piscina, inquieta, Lia tentou controlar as emoções, disfarçar a dor que sentia e esconder o amor que relutava em se esvair.
Sem dizer qualquer palavra, Daniel aproximou-se, puxou uma cadeira, colocando-se de frente para ela, deu um beijo em sua testa e sentou-se, igualmente tenso. Parecia pronto para falar, mas olhava Lia como quem não ousasse fazê-lo sem sua permissão. Ela, por sua vez, ainda não sabia se estava preparada para ouvir o que ele tinha a dizer. A única certeza que tinha era o desejo de que tudo acabasse logo, e ela pudesse retornar à confortável solidão do seu quarto.
Ele puxou o ar como quem vai começar um difícil discurso, mas Lia o interrompeu.
- Tu preferes falar primeiro? Ou queres que, antes, eu diga o que to sentindo?
- Acho que tu deves falar primeiro...
- Certo... Eu vou tentar ser direta, e te peço pra esperar que eu termine. Eu prometo ouvir tudo o que tu tens pra dizer, mas, por favor, me ouve até o fim, tá?
Ele aquiesceu.
- Eu queria que tu entendesses que eu sei que a gente não tava namorando, mas isso não me impediu de me sentir traída. A ausência de um rótulo de namorada não diminuiu a dor que eu senti, quando te vi ali. Não posso falar por ti, nem sei como tu te sentias ou o que pensavas em relação à gente, mas eu tava contigo. Única e exclusivamente contigo. Então, mesmo que inconscientemente, eu esperava o mesmo de ti, Daniel... Não quero que me entendas mal, eu não ficava por aí fantasiando a nossa relação, mas é natural que a gente espere do outro quase exatamente aquilo que a gente oferece. E por mais que não tenha sido de caso pensado, eu te ofereci um comprometimento sem tamanho, como nunca tinha sido capaz de oferecer. Por isso eu não consigo entender, sabe? É aí que tudo fica confuso, porque eu não vejo o que te levou a fazer isso. A mentir, me evitar e me trair um dia depois de tudo aquilo que foi dito. E eu nem consigo me decidir se eu quero mesmo saber o porquê disso tudo...
De cabeça baixa, Lia não conseguia mais organizar os pensamentos diante de tanta confusão sentimental. Não queria mais olhar praqueles doces olhos castanhos traidores. Mais que tudo, queria não lembrar mais nada.
- Lia... – ele esperou, ela não levantou a cabeça, mas também não interrompeu. – por favor, não fala no passado. Eu sei que errei, mas to aqui pra resolver isso. Não quero que esse seja o fim... Eu pensei que tu tivesses aceitado essa conversa como uma forma de colocar tudo pra trás, mas ta parecendo que esse “tudo” também significa a gente. Não faz isso. Me perdoa. Me dá mais uma chance. Eu quero ser teu namorado, com rótulo, compromisso, tudo. Tu não queres ser minha namorada?
- Queria...
- Não, não fala assim. Caramba, como eu pude ser tão imbecil? Nem eu sei o que me deu na cabeça. Acho que me apavorei. Foi tudo tão rápido... Eu não esperava conhecer alguém, muito menos me apaixonar desse jeito. Em um dia eu me vi completamente encantado por ti, e em uma semana eu já te queria perto de mim, participando da minha vida. Em um mês... Não foi um processo. Foi um atropelo. E, eu sei, a culpa não é tua. Nem sei se existe culpa pra uma paixão... um amor desse tipo! E isso me apavorou. Eu não sabia o que tava fazendo, mas fui um idiota por arriscar tanto por nada. Desculpa, Lia. Me perdoa. Eu fui um idiota, uma criança. Deixa eu te provar que sou mais que isso. Deixa eu tentar ser o cara que tu mereces.
Ao levantar os olhos pra ele, viu o reflexo de suas próprias lágrimas no rosto daquele que tanto amava. Por que tinha que ser assim? Ela podia ver a dor dele. Podia ler em cada traço de seu rosto toda a verdade daquelas palavras. Mas e a dor dela? E todas as lágrimas derramadas por culpa dele? Poderia ela esquecer? Perdoar? Confiar de novo?
Ela esticou a mão, enxugando as lágrimas dele. Passou os dedos pelos cabelos dele, parando na nuca. Aproximou-se devagar, tentando entender o que seus olhos diziam. A mão desceu o pescoço e subiu para a bochecha, repousando ali. E ele fechou os olhos, sentindo, esperando. E ela o beijou, bem de leve. Mas foi o suficiente. O medo tomou conta. A dor gritou. E Lia se afastou.
- Não dá... Eu não consigo. Não agora.

terça-feira, 9 de março de 2010

Reencontro

Ela estava no saguão do aeroporto, sentada em frente ao portão de desembarque. Estava só, e parecia concentrada, calma e serena. Não fossem os constantes olhares furtivos em direção ao painel de informações, qualquer um diria que ela estava simplesmente ali, sem nada ou ninguém por quem esperar.

Depois de um tempo daquela aparente tranquilidade, pareceu que o painel de informações finalmente dissera o que ela queria, e em poucos segundos ficar sentada já não era mais opção. Ficou em pé, preocupando-se em ter absoluta certeza de que tudo estava em seu devido lugar; a roupa, o cabelo, as próprias mãos, que, nervosas, não sabiam mais o que fazer.

Após um tempo, entre esticadas do pescoço e pontas de pé, na busca daquele por quem esperava, ela enfim revestiu-se da calma que antes transparecia, e sorriu. Um sorriso leve, aliviado. Então, percebendo que ele também procurava, mas ainda não a tinha visto, encaminhou-se para o portão, no intuito de ser encontrada.

Quando ele a viu, e abriu o mesmo sorriso leve que ela estampava no rosto, foi, sem correr, o mais rápido que pode ao seu encontro. A gente não percebe, ou talvez ele e ela nem percebessem a urgência que sentiam pela proximidade, pelo toque. E o encontro teve um vestígio de angustia. Primeiro as mãos se encontraram. E então os abraços e beijos rápidos tomaram espaço. Sempre buscando manter o contato, ao mesmo tempo em que os olhos de um tentavam registrar tudo o que podiam do outro.

Logo o que era urgente passa a ser saboreado. Um abraço longo, de olhos fechados. Sentindo a presença do outro. Ele passa a mão nos cabelos dela, respirando fundo, como provando lentamente o sabor do cheiro dela. Ela, com o rosto escondido em seu pescoço, passeia pelas costas dele, repousando, por fim, suas mãos nos ombros dele, em um aperto forte, de quem não quer ficar longe nunca mais.

 chuvaE separando-se, sem deixar de se tocar em momento algum, com um olhar profundamente íntimo, eles seguem de braços dados, como se fazia antigamente, mas mais leve, mais livre, mais ele e ela.

 

segunda-feira, 1 de março de 2010

Quer ver um filme?

 

pedrinho

 

Então, esse é o Pedrinho. Inicialmente, essa é só uma participação, mas quem sabe não rola um espaço "Memórias do Pedrinho", por aqui? Por enquanto, aproveitem esse texto. =)



 

 

É isso. Vou ter que assistir a melhor-comédia-do-século de novo. Não que eu esteja reclamando, mas estava eu com minha McOferta-nº-3-com-coca, alegre e contente, na última sessão de domingo, esperando o filme começar... quando ela apareceu. Nossa, e como ela chorava! Sentou na fila da frente, uma cadeira pro lado direito - como se estivesse sentada ao meu lado, mas uma fila à frente, 'tendeu? -. Então... ela chegou, sentou e chorou.

Era tudo o que eu precisava pra esquecer onde eu tava e pra quê, enquanto mil coisas passavam pela minha cabeça: "Por que?? O que aconteceu? O que eu faço!?"... Ora, o que eu poderia fazer? Só pude assistir a pobre garota chorar. Mas juro que considerei oferecer minha coca-cola. Até a batatinha. Qualquer coisa!

E então me vi fantasiando sobre a vida dela. Imaginando 437 motivos praquele choro descomedido, e 526 formas de fazer com que aquilo parasse... Até que ela foi se acalmando. Os soluços pararam, as lágrimas foram reduzindo até secarem, e alguma coisa arrancou um esboço de sorriso dela.

Fiquei perdido. Me perguntei se ela já conseguira chegar na fase de superar e rir das desgraças passadas. "Ela é rápida", eu pensei. E o sorriso foi se alargando - e eu já pensando que ela era louca -, até que uma gargalhada [essa palavra é ridícula, também acho], e eu me assustei. O que diabos poderia arrancar uma risada daquelas de uma garota que chorava copiosamente havia poucos minutos?? E aí me toquei. Cara, eu esqueci completamente que tava no cinema. E depois ela era a louca...

Acabou que eu perdi o filme. Não consegui desviar a minha atenção dela. Minha curiosidade em torno daquela garota só fazia crescer. Será que ela foi ao cinema com a simples intenção de se animar? Algo como: "muito bem, to triste. To me debulhando em lágrimas, e preciso resolver isso. Hora de ver a comédia-do-século e esquecer a vida". Não consigo imaginar que isso seja realmente possível, mas se foi isso que aconteceu, vou dizer pra vocês, funcionou.

As luzes acenderam. Eu percebi que não tinha visto o filme e que a minha comida já era, mesmo que não lembrasse de ter comido. Ela levantou, passou as mãos no rosto, depois nos cabelos, arrumando-os, ajeitou a blusa, me viu, sorriu e foi embora. Ela foi embora. Assim. Sorrindo!

Eu não sei o que aconteceu ou quem ela é. Não fiz nada pra ajudar. Nem ao menos sorri de volta quando um de seus sorrisos pareceu ser pra mim - desculpa, garota do cinema, tu me pegaste desprevenido -. Mas já sei o que dizer quando algum conhecido estiver triste: "quer ver um filme? Ainda tenho que ver a comédia-do-século".

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Resolução

- Oi, sumida.

- Oi, Di. Estás em casa?

- To...

- Vais sair? Posso passar aí?

- Não, não. Não vou sair. Claro, pode vir.

A caminho da casa de Diogo, Lia perdia e encontrava coragem a cada quarteirão, pelo menos três vezes. Pensou em desistir e voltar pra casa. Decidiu seguir em frente. Procurou desculpa pra continuar fugindo. Nenhuma foi suficiente. Tentou se convencer de que nem era isso que realmente deveria - ou queria - fazer. Não deu certo. Então, antes que pudesse se conter, estava na porta da casa dele.

Mesmo ali, Lia não sabia o que fazer. Queria... precisava se acalmar. Respirou fundo. Várias vezes. Nada. O coração continuava a pular enlouquecido em seu peito. As mãos suavam. Uma mistura de ansiedade, aflição e pura covardia percorrendo o corpo inteiro. E, quando ela pensou ter sido derrotada pelo medo, prestes a sair dali decidida a mudar de cidade, se preciso fosse, a porta abriu. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, Aline, irmã de Diogo, sorriu para Lia.

- Oi, Lia! Que susto. Hehehe. Não sabia que estavas aí. Tocaste a capainha? Nem ouvi...

- Ahn? Não... eu... er... acabei de chegar. O Diogo tá aí?

- Tá, sim. Entra. Ele tá no quarto dele. Sabes onde é, né? Ah, claro que sabe. Pode entrar. Eu to indo. Tchau, Lia. - despediu-se Aline, deixando Lia em meio ao seu pânico.

Sem mais alternativas, sabendo que Aline comentaria com Diogo que a encontrara na porta de casa, ela entrou. Falou com o cachorro, tentando adiar um pouco mais o momento, e seguiu o caminho para o quarto dele.

- Oi...

- Lils! Ué, não ouvi a campainha...

- A Aline tava saindo, e me deixou entrar. Hum.. E aí? Tudo bem?

- Tudo. Saudades, Lils. Por onde tu andaste? Pessoal te liga, e tu não apareces. Nem me atendes mais. Estás fugindo, é?

- Di, eu... a gente precisa conversar. - Gaguejou Lia, sentando na cama. Encostou-se na parede, pegou um travesseiro e abraçou-o, como pra controlar o medo e abafar o som do seu coração.

- Que foi? Algum problema? - preocupou-se Diogo, levantando da cadeira do computador, indo sentar-se perto dela.

- É... Quer dizer, não é bem um problema. É mais uma resolução.

- Tá, e essa resolução consiste em...?

- Calma, eu preciso te explicar algumas coisas antes... Só não sei muito bem como...

- Tu estás estranha.

- Eu sei, eu sei! Droga, é o seguinte: eu precisei me afastar. Precisava tentar... ver se isso passava. Mas não adiantou. Então, eu acho que não tenho outra opção... não sei mais... não acho que ainda tenha algo que eu possa fazer pra evitar.. pra parar isso.

- Lia, calma. Respira. - Diogo esperou um tempo, olhando pra ela, até que ela olhou pra ele - Agora tenta falar comigo. Tu estás aí tagarelando contigo mesma, e eu não to entendendo nada.

- Exatamente! Como tu vais entender? Merda... Antes, eu quero que tu saibas que eu tentei. Juro. Eu não queria estragar tudo. Mas não deu. Não adiantou. Por isso eu to aqui. Pra te dizer uma coisa... e te pedir outras.

- Lia...

- Di. A gente... Tu és meu amigo, né?

- Preciso responder isso? Claro, pô. Que papo é esse, Lia?

- O papo é esse. Tu és meu amigo... essa é a questão...

- Lils, aqui! Não te perde. Olha pra mim. O que tu queres dizer com "essa é a questão"? Eu sou teu amigo, tu és minha amiga. Agora quer me dizer qual é o problema?

- Justamente... tu és meu amigo, e eu sou apaixonada por ti.

- ... Quê?

- Desculpa.

- Desculpa? Estás te desculpando pelo que?

- Por estragar tudo. Por ser uma imbecil. Por pegar uma coisa ótima que a gente tinha, fantasiar, e transformar numa merda de amor, complicando tudo! Deixando tudo mais difícil! Eu não queria... desculpa.

- Então... tu gostas de mim.

- É, Diogo! Qual parte tá difícil de entender? Eu me apaixonei. E agora que tu sabes, eu queria te pedir uma coisa... duas, na verdade.

- Li...

- Me escuta! Primeiro: não conta pra ninguém. Por favor. Eu não... a gente... eu espero que a gente possa voltar ao que era. Então é melhor que ninguém saiba, pra não ter problema quando isso passar.

- Quando isso passar? Passar pra que??

- Segundo: eu preciso de um tempo. Quer dizer, eu nem sei se é disso que eu preciso. Mas eu preciso pensar mais um pouco. Então acho que vou ficar sumida por mais um tempo. Até achar que é seguro ficar do teu lado de novo... tá? Tu podes dizer qualquer coisa pro pessoal. Justifica a minha ausência de alguma forma, mas, por favor, me dá esse tempo.

- Já acabou?

- Assim que tu me prometeres fazer o que eu pedi.

- Para de falar besteira, e me ouve.

- Promete?

- Não, Lia. Eu não prometo fazer nada disso.

- Diog...

- Eu não quero fazer nada disso. Esperar passar? Ficar longe de ti? Tá doida? Tu finalmente gostas de mim! E tu queres que eu espere "isso" passar!? Lia, eu te amo. E não há o que me faça deixar "isso" passar.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

If you love me, won't you let me know?

Eles se conheciam havia quase dez anos, mas jamais houvera tanta intimidade como agora. Em menos de um mês a companhia um do outro passara a ser confortável e leve a um ponto que se tornava prazerosa até demais. Era como se tivesse sido assim desde o início. Desde quase dez anos atrás...

Sentados em cadeiras de praia, à beira do mar, naquela mesma cidade onde se conheceram, Lia e Rafael falavam de besteiras e importâncias, sem se preocupar com medos e segredos entre si. Era simples... quase perfeito. E, num desses momentos de silêncio, que tendem a ser desconfortáveis - mas não ali... nunca ali -, Rafael olhava Lia com uma expressão que ela não compreendia.

- Que foi, Rafa? Que cara é essa?

- Eu só tava pensando que, pelo menos, fico feliz pelo Daniel.

- Como assim?

- Quer dizer, enquanto eu podia, não tive coragem de dizer o que eu queria, e tu sumiste. Por mais de um mês, eu esperei te encontrar, decidido a não perder mais tempo, quando tu finalmente apareceste... com ele. Perdi minha chance. Não posso dizer que fiquei feliz com isso, mas eu gosto muito do Daniel. Ele é um cara bacana. Acho que dá pra ficar feliz com isso.... por vocês, eu digo.

- Hum... E o que tu dirias se me encontrasse sozinha? - provocou Lia, com um meio sorriso no rosto.

- Agora não adianta mais, não é? Vocês estão juntos. Ele é meu amigo. Acho até que já falei demais...

- Rafa, eu não to mais com o Daniel.

- Quê??

- Aliás, faz duas semanas que eu nem ao menos vejo o Daniel.

- Por que?

- Porque não é dele que eu gosto.

- Tu terminaste?

- Acho que a gente pode dizer que ele terminou...

- Por que não me falaste nada?

- Pensei que já soubesses.

- O que aconteceu?

- Ele me pediu em namoro.

- Não to entendendo.

- Ele pediu, e eu não aceitei. Eu disse que não podia. Não seria justo com ele ou comigo. E, como tu disseste, ele é um cara bacana, não merecia que a gente continuasse com isso. Eu expliquei... disse pra ele que não poderia aceitar, porque, mesmo tendo plena consciência do quão bom ele era pra mim, e de gostar muito de ficar perto dele, eu não gostava dele o suficiente pra ser ou fazê-lo feliz. Ele quis saber, pediu que eu falasse todas as minhas razões pra afirmar isso, e eu não pude esconder que, na verdade, eu tava gostando de outro. Bom... não tava, to.

- De quem?

Lia sorriu. É impressionante como homens são tão cegos pra certas coisas. Como ele pode não perceber?

- Quem é, Lia? Por que tu estás rindo?

- Porque tu és tão inteligente e esperto, e me conhece tão bem, mas não consegue enxergar que tudo o que eu quero é que tu me digas o que tu queres, pra eu poder ser exatamente o que tu disseres.

- ... Ele sabe disso?

- Do que? Que és tu?

- É...

- Sabe.

- E o que ele disse?

- Quase o mesmo que tu. Disse que não gostava da situação, que tava muito triste, mas que, pelo menos, ele te conhecia, e sabia que tu poderias me fazer feliz. E que, por mais difícil que fosse pra ele, achava que tu merecias ser feliz, mesmo que fosse com a mulher que ele ama... Mas eu não acho que ele me ame...

- Isso a gente não pode saber.

- Não, acho que não pode...

Eles ficaram ali, se olhando, por um tempo. Até que Rafael saiu de sua cadeira e se ajoelhou em frente à Lia, de modo que seus rostos ficassem no mesmo nível. Colocou aquele lindo rosto em suas mãos, e, olhando em seus olhos, disse:

- Eu quero que tu sejas tudo o que eu quero ser pra ti.

E, finalmente, a beijou.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

À espera de um Livro.

Quando eu tinha 14 anos de idade, tive meu primeiro contato com o que seria a muito bem sucedida série de J.K. Rowling, Harry Potter. Lembro de ter visto um box com os quatro primeiros livros e uma edição extra do primeiro, em inglês, na casa do meu primo, e tê-los desprezado, pensando "credo, eu não quero ler isso". Minha mãe até perguntou o por que disso, já que eu não tinha o costume de dispensar livro algum. A verdade é que até hoje eu não sei porque os rejeitei dessa forma. Provavelmente, eu não queria ser vista lendo livrinhos de bruxinhos e magia. Tolices de uma aborrecente, claro.

Pouco tempo depois, o primeiro filme foi lançado, e, mesmo tendo feito chacota de algumas amigas quando me chamaram pra ver, acabei indo e, pra minha surpresa, gostando. Mas não foi isso que me fez procurar o livro. Eu nem tinha a intenção de fazê-lo, quando ele veio até mim. Aliás, gosto de pensar que foi o destino quem trouxe o livro pra mim. Como? Uma amiga, que frequentava muito a minha casa, veio passar o fim de semana comigo, e trouxe Harry Potter e a Pedra Filosofal, tecendo vários comentários do quão maravilhoso era o livro.

No início da tarde, ela teve uma crise de cólica tão enlouquecedora, que, além de me fazer chamar a mãe dela pra levar algum remédio milagroso, a fez dormir o resto do dia. Só me restou o Harry de companhia, e eu não pude resistir - como eu disse, dispensar livros não era muito meu estilo. Fui pro quarto da minha mãe, e dei início à leitura que me viciaria de uma forma irreversível. Li sem parar. Até minha amiga acordar, quando fiquei desesperada, pois faltava algo em torno de 1/5 pra terminar o livro, e ela o levaria de mim. Implorei pra que ela o deixasse comigo, com a promessa de devolvê-lo no dia seguinte.

Depois disso, começou o sofrimento. Consegui a Câmara Secreta emprestado. Ganhei o Prisioneiro de Azkaban de aniversário. E, só no Natal, depois de 9 meses de espera, ganhei o Cálice de Fogo. Muito bem, todos os livros publicados, devidamente devorados. E foi aí que eu descobri o verdadeiro significado de "sofrimento" pela espera de um livro. J.K. ainda não havia terminado de escrever a Ordem da Fênix, e eu não aguentava mais esperar que ela o fizesse. Isso sim foi desesperador.

Claro que não terminou aí. Depois vieram os dois anos de espera pelo Enigma do Príncipe, e mais dois por Relíquias da Morte. Foi bem difícil... Mas o que nós, amantes de livros e fãs de Harry Potter, poderíamos fazer, que não esperar? E assim o fizemos. Experimentando momentos de exasperação e expectativa. Revolta e impaciência, seguidos de uma conformidade um tanto rebelde.

Quando a espera por Relíquias da Morte finalmente chegou ao fim, eu tive um bom período de tranquilidade, até janeiro de 2009. Foi quando terminei de ler Eclipse, e tive que esperar uns bons cinco meses por Amanhecer. Mas não é sobre isso que eu quero falar. Não perdendo a minha mania de rodeios e tagarelice, contei toda essa história pra falar do meu mais novo sofrimento: O Nome do Vento, A Crônica do Matador Rei - Primeiro Dia.

Estava eu, passeando pela livraria do aeroporto de Congonhas, na esperança de ocupar as duas horas que me separavam do meu voo de volta pra casa, quando encontrei O Nome do Vento. Eu já sabia que era esse o livro que eu queria comprar, mesmo que nunca tivesse ouvido falar dele. Rodei um pouco com ele nas mãos, dando uma olhada nos outros livros... Mas a verdade é que eu estava com medo de não passar o cartão e ter que deixa-lo lá. Criei coragem, e o cartão passou. E, logo nas primeiras páginas, me encontrei presa nesse mundo criado por Patrick Rothfuss, e as horas passaram. Tanto as de espera, quanto as no ar. Agora não consigo mais largar a história de Kvothe, suas aventuras e infortúnios.

Acontece que, não sei se deu pra notar, mas o subtítulo diz "primeiro dia". Sim, isso significa que, por mais que o tal primeiro dia tenha 651 páginas, ele continua sendo só o primeiro dia! Certo, onde estão os outros dois dias [ao ler O Nome do Vento, você descobre que Kvothe decide contar sua história em três dias]? Comecei a busca pela sequência da trilogia, e acabei dando de cara com a tão temida porta do sofrimento da espera. Pat, como eu descobri ser carinhosamente chamado o já querido autor, ainda está escrevendo "The Wise Man's Fear", também conhecido como "book two". O pior disso tudo? Sem previsão para o seu lançamento!

Pois bem, queridos leitores que não tenham me abandonado depois de tanto tempo, e que tiveram paciência de ler até aqui, hoje começa o meu sofrimento. Tudo bem que descobri ontem, mas, fora o sofrimento antecipado, devo terminar de ler O Nome do Vento essa noite. Se tiver coragem... to com medo de acabar. Mas, quem eu quero enganar? Sou tão descontrolada quando leio algo que gosto tanto, que não tem medo que me detenha. É hoje, mesmo.

A despeito disso, nem pensem em desencorajar! Comprem o livro. Leiam O Nome do Vento. É maravilhoso! Pensando cá com meus botões, imagino que o Ivens iria adorar esse livro. Por falar nisso, alguém tem notícia dele? Como ele pode abandonar a gente desse jeito?

Enfim, já to me perdendo de novo. Não deixem de ler esse livro. Eu mais que indico! =)

Beijos.