Eles se conheciam havia quase dez anos, mas jamais houvera tanta intimidade como agora. Em menos de um mês a companhia um do outro passara a ser confortável e leve a um ponto que se tornava prazerosa até demais. Era como se tivesse sido assim desde o início. Desde quase dez anos atrás...
Sentados em cadeiras de praia, à beira do mar, naquela mesma cidade onde se conheceram, Lia e Rafael falavam de besteiras e importâncias, sem se preocupar com medos e segredos entre si. Era simples... quase perfeito. E, num desses momentos de silêncio, que tendem a ser desconfortáveis - mas não ali... nunca ali -, Rafael olhava Lia com uma expressão que ela não compreendia.
- Que foi, Rafa? Que cara é essa?
- Eu só tava pensando que, pelo menos, fico feliz pelo Daniel.
- Como assim?
- Quer dizer, enquanto eu podia, não tive coragem de dizer o que eu queria, e tu sumiste. Por mais de um mês, eu esperei te encontrar, decidido a não perder mais tempo, quando tu finalmente apareceste... com ele. Perdi minha chance. Não posso dizer que fiquei feliz com isso, mas eu gosto muito do Daniel. Ele é um cara bacana. Acho que dá pra ficar feliz com isso.... por vocês, eu digo.
- Hum... E o que tu dirias se me encontrasse sozinha? - provocou Lia, com um meio sorriso no rosto.
- Agora não adianta mais, não é? Vocês estão juntos. Ele é meu amigo. Acho até que já falei demais...
- Rafa, eu não to mais com o Daniel.
- Quê??
- Aliás, faz duas semanas que eu nem ao menos vejo o Daniel.
- Por que?
- Porque não é dele que eu gosto.
- Tu terminaste?
- Acho que a gente pode dizer que ele terminou...
- Por que não me falaste nada?
- Pensei que já soubesses.
- O que aconteceu?
- Ele me pediu em namoro.
- Não to entendendo.
- Ele pediu, e eu não aceitei. Eu disse que não podia. Não seria justo com ele ou comigo. E, como tu disseste, ele é um cara bacana, não merecia que a gente continuasse com isso. Eu expliquei... disse pra ele que não poderia aceitar, porque, mesmo tendo plena consciência do quão bom ele era pra mim, e de gostar muito de ficar perto dele, eu não gostava dele o suficiente pra ser ou fazê-lo feliz. Ele quis saber, pediu que eu falasse todas as minhas razões pra afirmar isso, e eu não pude esconder que, na verdade, eu tava gostando de outro. Bom... não tava, to.
- De quem?
Lia sorriu. É impressionante como homens são tão cegos pra certas coisas. Como ele pode não perceber?
- Quem é, Lia? Por que tu estás rindo?
- Porque tu és tão inteligente e esperto, e me conhece tão bem, mas não consegue enxergar que tudo o que eu quero é que tu me digas o que tu queres, pra eu poder ser exatamente o que tu disseres.
- ... Ele sabe disso?
- Do que? Que és tu?
- É...
- Sabe.
- E o que ele disse?
- Quase o mesmo que tu. Disse que não gostava da situação, que tava muito triste, mas que, pelo menos, ele te conhecia, e sabia que tu poderias me fazer feliz. E que, por mais difícil que fosse pra ele, achava que tu merecias ser feliz, mesmo que fosse com a mulher que ele ama... Mas eu não acho que ele me ame...
- Isso a gente não pode saber.
- Não, acho que não pode...
Eles ficaram ali, se olhando, por um tempo. Até que Rafael saiu de sua cadeira e se ajoelhou em frente à Lia, de modo que seus rostos ficassem no mesmo nível. Colocou aquele lindo rosto em suas mãos, e, olhando em seus olhos, disse:
- Eu quero que tu sejas tudo o que eu quero ser pra ti.
E, finalmente, a beijou.
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