quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

If you love me, won't you let me know?

Eles se conheciam havia quase dez anos, mas jamais houvera tanta intimidade como agora. Em menos de um mês a companhia um do outro passara a ser confortável e leve a um ponto que se tornava prazerosa até demais. Era como se tivesse sido assim desde o início. Desde quase dez anos atrás...

Sentados em cadeiras de praia, à beira do mar, naquela mesma cidade onde se conheceram, Lia e Rafael falavam de besteiras e importâncias, sem se preocupar com medos e segredos entre si. Era simples... quase perfeito. E, num desses momentos de silêncio, que tendem a ser desconfortáveis - mas não ali... nunca ali -, Rafael olhava Lia com uma expressão que ela não compreendia.

- Que foi, Rafa? Que cara é essa?

- Eu só tava pensando que, pelo menos, fico feliz pelo Daniel.

- Como assim?

- Quer dizer, enquanto eu podia, não tive coragem de dizer o que eu queria, e tu sumiste. Por mais de um mês, eu esperei te encontrar, decidido a não perder mais tempo, quando tu finalmente apareceste... com ele. Perdi minha chance. Não posso dizer que fiquei feliz com isso, mas eu gosto muito do Daniel. Ele é um cara bacana. Acho que dá pra ficar feliz com isso.... por vocês, eu digo.

- Hum... E o que tu dirias se me encontrasse sozinha? - provocou Lia, com um meio sorriso no rosto.

- Agora não adianta mais, não é? Vocês estão juntos. Ele é meu amigo. Acho até que já falei demais...

- Rafa, eu não to mais com o Daniel.

- Quê??

- Aliás, faz duas semanas que eu nem ao menos vejo o Daniel.

- Por que?

- Porque não é dele que eu gosto.

- Tu terminaste?

- Acho que a gente pode dizer que ele terminou...

- Por que não me falaste nada?

- Pensei que já soubesses.

- O que aconteceu?

- Ele me pediu em namoro.

- Não to entendendo.

- Ele pediu, e eu não aceitei. Eu disse que não podia. Não seria justo com ele ou comigo. E, como tu disseste, ele é um cara bacana, não merecia que a gente continuasse com isso. Eu expliquei... disse pra ele que não poderia aceitar, porque, mesmo tendo plena consciência do quão bom ele era pra mim, e de gostar muito de ficar perto dele, eu não gostava dele o suficiente pra ser ou fazê-lo feliz. Ele quis saber, pediu que eu falasse todas as minhas razões pra afirmar isso, e eu não pude esconder que, na verdade, eu tava gostando de outro. Bom... não tava, to.

- De quem?

Lia sorriu. É impressionante como homens são tão cegos pra certas coisas. Como ele pode não perceber?

- Quem é, Lia? Por que tu estás rindo?

- Porque tu és tão inteligente e esperto, e me conhece tão bem, mas não consegue enxergar que tudo o que eu quero é que tu me digas o que tu queres, pra eu poder ser exatamente o que tu disseres.

- ... Ele sabe disso?

- Do que? Que és tu?

- É...

- Sabe.

- E o que ele disse?

- Quase o mesmo que tu. Disse que não gostava da situação, que tava muito triste, mas que, pelo menos, ele te conhecia, e sabia que tu poderias me fazer feliz. E que, por mais difícil que fosse pra ele, achava que tu merecias ser feliz, mesmo que fosse com a mulher que ele ama... Mas eu não acho que ele me ame...

- Isso a gente não pode saber.

- Não, acho que não pode...

Eles ficaram ali, se olhando, por um tempo. Até que Rafael saiu de sua cadeira e se ajoelhou em frente à Lia, de modo que seus rostos ficassem no mesmo nível. Colocou aquele lindo rosto em suas mãos, e, olhando em seus olhos, disse:

- Eu quero que tu sejas tudo o que eu quero ser pra ti.

E, finalmente, a beijou.

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