quinta-feira, 22 de julho de 2010

Blind date às avessas

Os finais de semana de julho, aqui em Belém, não são o que a gente pode chamar de “Paraíso do Entretenimento”. A exemplo disso, posso citar que a única rede de cinema da cidade, que aliás é medíocre, inaugurou recentemente a primeira sala de execução em 3D. Pois é, impressionantemente triste, não? Mas, como pouco é melhor que nada, e eu tive que ficar e me virar com as opções da cidade das mangueiras, sábado eu estava lá, vendo Shrek.

Muito bem. Eu sempre fui uma pessoa bastante confortável com a minha condição de solteira, portanto, quando uma amiga me ligou para ir ao cinema com ela e o namorado, aceitei prontamente. Claro que o fato de que eles não são desses casais grude-chengonhengonhengo contribuiu muito para a minha aceitação, mas... Exatamente, tinha um “mas” na história: eu não fui a única amiga convidada para a noite de cinema, existia outro… casal!

Tudo bem, eu posso ser muito moderna e tranquila com a minha solteirice, mas eu nem tenho intimidade com o outro casal!  Confesso que fiquei um pouco nervosa… ansiosa, que seja. Como se eles tivessem arranjado um blind date sem me avisar. Isso não se faz! Pô, não existe um código de conduta a ser seguido, quando a gente leva um amigo solteiro pra algum lugar? E se eles forem do tipo insuportável? Daqueles que todo e qualquer solteiro, por mais bem resolvido que seja, queira enfiar uma bala na sua cabeça, ou na de cada um daqueles seres irritantemente felizes com vozinha de bebê?

Mas eu não me intimido assim tão fácil. Repassei os poucos momentos que tive com o casal em questão, e me convenci de que eles eram satisfatoriamente civilizados. Juntei isso com outras informações que tinha – como os seus 5 anos de namoro –, e concluí que aquela noite não seria um martírio, que poderia ser até interessante. Ora, eu nem teria que interagir tanto com eles. Era um filme, depois que as luzes apagam, conversar é até falta de educação. Então eu fui, despreocupada.

Enquanto estávamos na fila, passei por alguns momentos constrangedores. Como quando encontrei um amigo… com a namorada. E outra amiga… com o namorado. Outros de desespero. Como quando constatei o número absurdamente irreal de casais no recinto. Dia de casal ir ao cinema não é domingo?! Pelamordideus, mundo, vê se colabora! Eu to tentando manter a cabeça erguida aqui, ok? Mas, logo, eu havia superado o desafio da fila, e já estávamos devidamente instalados nas cadeiras do cinema – eu de um lado do casal-amigo, e eles do outro, claro. Mais algumas conversinhas, e a luzes apagaram.

Saindo do cinema, com fome e vontade de comer algo diferente, eu já me resignara com ideia de comer um x-geladeira em casa, enquanto os dois casais discutiam se e onde jantariam. Até que, quando eu menos esperava, o namorado do outro casal disparou a pergunta pra mim: quer ir? Eu gaguejei, claro, fiquei vermelha, e tenho certeza que balbuciei alguma coisa incompreensível ao negar a imposição da minha presença no double date deles.

Quando eu fiquei sozinha com o casal amigo, eles começaram a insistir na ideia do jantar. O namorado-amigo até jogou na minha cara que eu tinha dito que queria jantar no Roxy, e, meu Deus, eu realmente queria! Então fui. E fiquei um pouco tímida quando pedimos mesa pra cinco. Fiz minhas continhas e fiquei um pouco triste quando percebi que não tinha ninguém pra dividir o prato comigo. E fiquei incrivelmente envergonhada quando o namorado-amigo sugeriu que pedíssemos dois pratos e dividissemos por três. Mas foi tudo superado, e eu voltei pro meu conforto solteirístico.

O outro casal se mostrou mais que civilizado. Eles eram até interessantes. Inteligentes, papo bacana, sem chengonhengonhengo. O jantar acabou, a conta foi paga e as despedidas feitas. Voltando pra casa com o casal amigo, o namorado-amigo solta:

- É… até que o Fulano tá mais suportável. Já dá pra passar uma noite bacana com ele…

Ah, então eu tive sorte?

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