quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Resolução

- Oi, sumida.

- Oi, Di. Estás em casa?

- To...

- Vais sair? Posso passar aí?

- Não, não. Não vou sair. Claro, pode vir.

A caminho da casa de Diogo, Lia perdia e encontrava coragem a cada quarteirão, pelo menos três vezes. Pensou em desistir e voltar pra casa. Decidiu seguir em frente. Procurou desculpa pra continuar fugindo. Nenhuma foi suficiente. Tentou se convencer de que nem era isso que realmente deveria - ou queria - fazer. Não deu certo. Então, antes que pudesse se conter, estava na porta da casa dele.

Mesmo ali, Lia não sabia o que fazer. Queria... precisava se acalmar. Respirou fundo. Várias vezes. Nada. O coração continuava a pular enlouquecido em seu peito. As mãos suavam. Uma mistura de ansiedade, aflição e pura covardia percorrendo o corpo inteiro. E, quando ela pensou ter sido derrotada pelo medo, prestes a sair dali decidida a mudar de cidade, se preciso fosse, a porta abriu. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, Aline, irmã de Diogo, sorriu para Lia.

- Oi, Lia! Que susto. Hehehe. Não sabia que estavas aí. Tocaste a capainha? Nem ouvi...

- Ahn? Não... eu... er... acabei de chegar. O Diogo tá aí?

- Tá, sim. Entra. Ele tá no quarto dele. Sabes onde é, né? Ah, claro que sabe. Pode entrar. Eu to indo. Tchau, Lia. - despediu-se Aline, deixando Lia em meio ao seu pânico.

Sem mais alternativas, sabendo que Aline comentaria com Diogo que a encontrara na porta de casa, ela entrou. Falou com o cachorro, tentando adiar um pouco mais o momento, e seguiu o caminho para o quarto dele.

- Oi...

- Lils! Ué, não ouvi a campainha...

- A Aline tava saindo, e me deixou entrar. Hum.. E aí? Tudo bem?

- Tudo. Saudades, Lils. Por onde tu andaste? Pessoal te liga, e tu não apareces. Nem me atendes mais. Estás fugindo, é?

- Di, eu... a gente precisa conversar. - Gaguejou Lia, sentando na cama. Encostou-se na parede, pegou um travesseiro e abraçou-o, como pra controlar o medo e abafar o som do seu coração.

- Que foi? Algum problema? - preocupou-se Diogo, levantando da cadeira do computador, indo sentar-se perto dela.

- É... Quer dizer, não é bem um problema. É mais uma resolução.

- Tá, e essa resolução consiste em...?

- Calma, eu preciso te explicar algumas coisas antes... Só não sei muito bem como...

- Tu estás estranha.

- Eu sei, eu sei! Droga, é o seguinte: eu precisei me afastar. Precisava tentar... ver se isso passava. Mas não adiantou. Então, eu acho que não tenho outra opção... não sei mais... não acho que ainda tenha algo que eu possa fazer pra evitar.. pra parar isso.

- Lia, calma. Respira. - Diogo esperou um tempo, olhando pra ela, até que ela olhou pra ele - Agora tenta falar comigo. Tu estás aí tagarelando contigo mesma, e eu não to entendendo nada.

- Exatamente! Como tu vais entender? Merda... Antes, eu quero que tu saibas que eu tentei. Juro. Eu não queria estragar tudo. Mas não deu. Não adiantou. Por isso eu to aqui. Pra te dizer uma coisa... e te pedir outras.

- Lia...

- Di. A gente... Tu és meu amigo, né?

- Preciso responder isso? Claro, pô. Que papo é esse, Lia?

- O papo é esse. Tu és meu amigo... essa é a questão...

- Lils, aqui! Não te perde. Olha pra mim. O que tu queres dizer com "essa é a questão"? Eu sou teu amigo, tu és minha amiga. Agora quer me dizer qual é o problema?

- Justamente... tu és meu amigo, e eu sou apaixonada por ti.

- ... Quê?

- Desculpa.

- Desculpa? Estás te desculpando pelo que?

- Por estragar tudo. Por ser uma imbecil. Por pegar uma coisa ótima que a gente tinha, fantasiar, e transformar numa merda de amor, complicando tudo! Deixando tudo mais difícil! Eu não queria... desculpa.

- Então... tu gostas de mim.

- É, Diogo! Qual parte tá difícil de entender? Eu me apaixonei. E agora que tu sabes, eu queria te pedir uma coisa... duas, na verdade.

- Li...

- Me escuta! Primeiro: não conta pra ninguém. Por favor. Eu não... a gente... eu espero que a gente possa voltar ao que era. Então é melhor que ninguém saiba, pra não ter problema quando isso passar.

- Quando isso passar? Passar pra que??

- Segundo: eu preciso de um tempo. Quer dizer, eu nem sei se é disso que eu preciso. Mas eu preciso pensar mais um pouco. Então acho que vou ficar sumida por mais um tempo. Até achar que é seguro ficar do teu lado de novo... tá? Tu podes dizer qualquer coisa pro pessoal. Justifica a minha ausência de alguma forma, mas, por favor, me dá esse tempo.

- Já acabou?

- Assim que tu me prometeres fazer o que eu pedi.

- Para de falar besteira, e me ouve.

- Promete?

- Não, Lia. Eu não prometo fazer nada disso.

- Diog...

- Eu não quero fazer nada disso. Esperar passar? Ficar longe de ti? Tá doida? Tu finalmente gostas de mim! E tu queres que eu espere "isso" passar!? Lia, eu te amo. E não há o que me faça deixar "isso" passar.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

If you love me, won't you let me know?

Eles se conheciam havia quase dez anos, mas jamais houvera tanta intimidade como agora. Em menos de um mês a companhia um do outro passara a ser confortável e leve a um ponto que se tornava prazerosa até demais. Era como se tivesse sido assim desde o início. Desde quase dez anos atrás...

Sentados em cadeiras de praia, à beira do mar, naquela mesma cidade onde se conheceram, Lia e Rafael falavam de besteiras e importâncias, sem se preocupar com medos e segredos entre si. Era simples... quase perfeito. E, num desses momentos de silêncio, que tendem a ser desconfortáveis - mas não ali... nunca ali -, Rafael olhava Lia com uma expressão que ela não compreendia.

- Que foi, Rafa? Que cara é essa?

- Eu só tava pensando que, pelo menos, fico feliz pelo Daniel.

- Como assim?

- Quer dizer, enquanto eu podia, não tive coragem de dizer o que eu queria, e tu sumiste. Por mais de um mês, eu esperei te encontrar, decidido a não perder mais tempo, quando tu finalmente apareceste... com ele. Perdi minha chance. Não posso dizer que fiquei feliz com isso, mas eu gosto muito do Daniel. Ele é um cara bacana. Acho que dá pra ficar feliz com isso.... por vocês, eu digo.

- Hum... E o que tu dirias se me encontrasse sozinha? - provocou Lia, com um meio sorriso no rosto.

- Agora não adianta mais, não é? Vocês estão juntos. Ele é meu amigo. Acho até que já falei demais...

- Rafa, eu não to mais com o Daniel.

- Quê??

- Aliás, faz duas semanas que eu nem ao menos vejo o Daniel.

- Por que?

- Porque não é dele que eu gosto.

- Tu terminaste?

- Acho que a gente pode dizer que ele terminou...

- Por que não me falaste nada?

- Pensei que já soubesses.

- O que aconteceu?

- Ele me pediu em namoro.

- Não to entendendo.

- Ele pediu, e eu não aceitei. Eu disse que não podia. Não seria justo com ele ou comigo. E, como tu disseste, ele é um cara bacana, não merecia que a gente continuasse com isso. Eu expliquei... disse pra ele que não poderia aceitar, porque, mesmo tendo plena consciência do quão bom ele era pra mim, e de gostar muito de ficar perto dele, eu não gostava dele o suficiente pra ser ou fazê-lo feliz. Ele quis saber, pediu que eu falasse todas as minhas razões pra afirmar isso, e eu não pude esconder que, na verdade, eu tava gostando de outro. Bom... não tava, to.

- De quem?

Lia sorriu. É impressionante como homens são tão cegos pra certas coisas. Como ele pode não perceber?

- Quem é, Lia? Por que tu estás rindo?

- Porque tu és tão inteligente e esperto, e me conhece tão bem, mas não consegue enxergar que tudo o que eu quero é que tu me digas o que tu queres, pra eu poder ser exatamente o que tu disseres.

- ... Ele sabe disso?

- Do que? Que és tu?

- É...

- Sabe.

- E o que ele disse?

- Quase o mesmo que tu. Disse que não gostava da situação, que tava muito triste, mas que, pelo menos, ele te conhecia, e sabia que tu poderias me fazer feliz. E que, por mais difícil que fosse pra ele, achava que tu merecias ser feliz, mesmo que fosse com a mulher que ele ama... Mas eu não acho que ele me ame...

- Isso a gente não pode saber.

- Não, acho que não pode...

Eles ficaram ali, se olhando, por um tempo. Até que Rafael saiu de sua cadeira e se ajoelhou em frente à Lia, de modo que seus rostos ficassem no mesmo nível. Colocou aquele lindo rosto em suas mãos, e, olhando em seus olhos, disse:

- Eu quero que tu sejas tudo o que eu quero ser pra ti.

E, finalmente, a beijou.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

À espera de um Livro.

Quando eu tinha 14 anos de idade, tive meu primeiro contato com o que seria a muito bem sucedida série de J.K. Rowling, Harry Potter. Lembro de ter visto um box com os quatro primeiros livros e uma edição extra do primeiro, em inglês, na casa do meu primo, e tê-los desprezado, pensando "credo, eu não quero ler isso". Minha mãe até perguntou o por que disso, já que eu não tinha o costume de dispensar livro algum. A verdade é que até hoje eu não sei porque os rejeitei dessa forma. Provavelmente, eu não queria ser vista lendo livrinhos de bruxinhos e magia. Tolices de uma aborrecente, claro.

Pouco tempo depois, o primeiro filme foi lançado, e, mesmo tendo feito chacota de algumas amigas quando me chamaram pra ver, acabei indo e, pra minha surpresa, gostando. Mas não foi isso que me fez procurar o livro. Eu nem tinha a intenção de fazê-lo, quando ele veio até mim. Aliás, gosto de pensar que foi o destino quem trouxe o livro pra mim. Como? Uma amiga, que frequentava muito a minha casa, veio passar o fim de semana comigo, e trouxe Harry Potter e a Pedra Filosofal, tecendo vários comentários do quão maravilhoso era o livro.

No início da tarde, ela teve uma crise de cólica tão enlouquecedora, que, além de me fazer chamar a mãe dela pra levar algum remédio milagroso, a fez dormir o resto do dia. Só me restou o Harry de companhia, e eu não pude resistir - como eu disse, dispensar livros não era muito meu estilo. Fui pro quarto da minha mãe, e dei início à leitura que me viciaria de uma forma irreversível. Li sem parar. Até minha amiga acordar, quando fiquei desesperada, pois faltava algo em torno de 1/5 pra terminar o livro, e ela o levaria de mim. Implorei pra que ela o deixasse comigo, com a promessa de devolvê-lo no dia seguinte.

Depois disso, começou o sofrimento. Consegui a Câmara Secreta emprestado. Ganhei o Prisioneiro de Azkaban de aniversário. E, só no Natal, depois de 9 meses de espera, ganhei o Cálice de Fogo. Muito bem, todos os livros publicados, devidamente devorados. E foi aí que eu descobri o verdadeiro significado de "sofrimento" pela espera de um livro. J.K. ainda não havia terminado de escrever a Ordem da Fênix, e eu não aguentava mais esperar que ela o fizesse. Isso sim foi desesperador.

Claro que não terminou aí. Depois vieram os dois anos de espera pelo Enigma do Príncipe, e mais dois por Relíquias da Morte. Foi bem difícil... Mas o que nós, amantes de livros e fãs de Harry Potter, poderíamos fazer, que não esperar? E assim o fizemos. Experimentando momentos de exasperação e expectativa. Revolta e impaciência, seguidos de uma conformidade um tanto rebelde.

Quando a espera por Relíquias da Morte finalmente chegou ao fim, eu tive um bom período de tranquilidade, até janeiro de 2009. Foi quando terminei de ler Eclipse, e tive que esperar uns bons cinco meses por Amanhecer. Mas não é sobre isso que eu quero falar. Não perdendo a minha mania de rodeios e tagarelice, contei toda essa história pra falar do meu mais novo sofrimento: O Nome do Vento, A Crônica do Matador Rei - Primeiro Dia.

Estava eu, passeando pela livraria do aeroporto de Congonhas, na esperança de ocupar as duas horas que me separavam do meu voo de volta pra casa, quando encontrei O Nome do Vento. Eu já sabia que era esse o livro que eu queria comprar, mesmo que nunca tivesse ouvido falar dele. Rodei um pouco com ele nas mãos, dando uma olhada nos outros livros... Mas a verdade é que eu estava com medo de não passar o cartão e ter que deixa-lo lá. Criei coragem, e o cartão passou. E, logo nas primeiras páginas, me encontrei presa nesse mundo criado por Patrick Rothfuss, e as horas passaram. Tanto as de espera, quanto as no ar. Agora não consigo mais largar a história de Kvothe, suas aventuras e infortúnios.

Acontece que, não sei se deu pra notar, mas o subtítulo diz "primeiro dia". Sim, isso significa que, por mais que o tal primeiro dia tenha 651 páginas, ele continua sendo só o primeiro dia! Certo, onde estão os outros dois dias [ao ler O Nome do Vento, você descobre que Kvothe decide contar sua história em três dias]? Comecei a busca pela sequência da trilogia, e acabei dando de cara com a tão temida porta do sofrimento da espera. Pat, como eu descobri ser carinhosamente chamado o já querido autor, ainda está escrevendo "The Wise Man's Fear", também conhecido como "book two". O pior disso tudo? Sem previsão para o seu lançamento!

Pois bem, queridos leitores que não tenham me abandonado depois de tanto tempo, e que tiveram paciência de ler até aqui, hoje começa o meu sofrimento. Tudo bem que descobri ontem, mas, fora o sofrimento antecipado, devo terminar de ler O Nome do Vento essa noite. Se tiver coragem... to com medo de acabar. Mas, quem eu quero enganar? Sou tão descontrolada quando leio algo que gosto tanto, que não tem medo que me detenha. É hoje, mesmo.

A despeito disso, nem pensem em desencorajar! Comprem o livro. Leiam O Nome do Vento. É maravilhoso! Pensando cá com meus botões, imagino que o Ivens iria adorar esse livro. Por falar nisso, alguém tem notícia dele? Como ele pode abandonar a gente desse jeito?

Enfim, já to me perdendo de novo. Não deixem de ler esse livro. Eu mais que indico! =)

Beijos.