terça-feira, 17 de novembro de 2009

Jogando o bom senso no lixo

"E quando você me envolver
Nos seus braços serenos
Eu vou me render
Mas seus olhos morenos
Me metem mais medo
Que um raio de sol
"

                                            Tom Jobim.

Ela sabia que não devia, mas queria provocar. Conhecia-o. Sabia que seria fácil. Não por ela. Por ele. Não era o tipo que dificultava. Bastava umas poucas palavras. As palavras certas. E ele cedia. Simples. Sempre fora assim. Não seria diferente dessa vez. E não foi.

Em pouco tempo, ela estava sentada, na portaria do seu prédio. Esperando-o. Experimentando a já conhecida e incômoda sensação de esperá-lo. Mesmo assim, quando chegou a hora, ela entrou no carro sem hesitar. Fez charme. Beijou seu rosto. Reconheceu a música, e sorriu, nervosa.

A noite seguia, e a segurança do início parecia esvaecer com os minutos passados. Sentiu as investidas de sua coragem, louca para correr, sumir dali, abandoná-la. Mas sempre fora assim. Ela sabia. Sustentou-se na cerveja. Ignorou sua consciência. Trancou a coragem. E continuou provocando, sorrindo e tocando. Sem pensar.

A cerveja já era suficiente. A Praça do Carmo já estava quase vazia. O bar Nosso Recanto começava a recolher as mesas. A conta foi paga. E a vontade, já quase transbordando, saciada. Boca. Mãos. Pele... Desejo.

Ela não quer pensar. Só agir. Lembrar. Viver... de qualquer forma. E, assim, se entrega. Não pensa, nem fala. Sente. A barba. A textura. O sabor. O calor que só ele traz. Os arrepios que só as mãos dele provocam. A inflamação que só o amor dele é capaz de lhe dar. Mesmo que por uma noite. Mesmo que vez ou outra. Engana-se e deixa-se enganar. No amanhã, ela pensa depois. Sempre fora assim. Ela sabe...

* * * * *

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Às vezes, nem a gente sabe...

- Desculpa não ter aparecido antes. Eu queria ter ligado... Não quero que tu penses que eu to aqui por obrigação.
- Não tens com o que te preocupar. Eu não cheguei a pensar em nada.
- Acho que isso pode me deixar mais preocupado.
- Acho que não posso fazer nada quanto a isso.
- A gente não precisa falar sobre isso agora. Vem aqui...
- Para com isso, Rodrigo. Eu to bem.
- Não, Lia. Não estás, e nem precisas estar. Tu perdeste a tua avó e estás sentindo a dor dessa perda. E isso tá “tudo bem”; sentir a dor e pôr pra fora. Não guarda isso pra ti. Não tranca isso aí dentro.
- Para, Rodrigo.
- Olha pra mim.
- Sai daqui.
- Eu não vou a lugar algum. To aqui pra te ajudar no que tu precisares. Principalmente naquilo que tu nem sabes que precisa.
- Vais agir, agora, como se me conhecesses tão bem assim? Como se participasse da minha vida o suficiente pra saber do que eu preciso, mais do que eu mesma?
- Eu sei do que tu precisas, agora. Eu te conheço o suficiente. E quero participar da tua vida... de novo.
- Eu não preciso da tua ajuda.
- Mas eu preciso te ajudar. Eu quero.
- Então me deixa em paz.
- Essa é a ideia.
- Para! Sai daqui, Rodrigo. Eu não vou conseguir, desse jeito. Eu não aguento. Vai embora! Eu não quero... – e ela chorou. Chorou como poucas vezes na vida. Até não ter mais forças ou lágrimas... até a dor acalmar. Então olhou rapidamente para o rosto dos braços e ombros que a sustentavam, e, aliviada, sussurrou – brigada...
- Pro que tu precisares, meu amor.
- Até pro que eu acho que não preciso.

* * * * *


Escolhi ao vivo, porque tem mais emoção.
E o Steve Tyler é demais, até com essa maquiagem estilo "Qual é a Música" de ser.

* * * * *

Isso é "só" um texto, viu, gente?
Não que eu nunca tenha sentido essa dor, mas já faz um tempo. E, apesar de não ter tido um Rodrigo na minha vida, eu fiquei e continuo bem. =)