domingo, 11 de outubro de 2009

Reconhecimento

Dizem que certas coisas a gente nunca esquece. Quando procurei no Google, o que mais as pessoas parecem não esquecer é do "primeiro-qualquer coisa"... O primeiro porre, encontro, acordo, protótipo... o primeiro "primeiro". Mas e quando a gente teima em lembrar daquilo que ocupa um número qualquer na vida? E quando a gente não esquece aquilo que parecia ser tão facilmente esquecido?

Não, tu não és o meu primeiro "primeiro", nem segundo amor, ou terceiro beijo. Tu és um número qualquer, que o meu corpo teima em não esquecer. Alguém que deveria estar esquecido, mas que a minha mente não me deixa afastar por mais que algumas horas. Que meus olhos parecem ter resolvido ficar em alerta constante pra qualquer sinal da janelinha, no canto inferior direito do monitor. Que faz meu coração me cutucar, como pra me lembrar de tudo isso, cada vez que vejo. E, como se não bastasse, alguém cujas mãos as minhas reconhecem como se fossem uma simples extensão delas.

E eu queria tanto poder ver esse reconhecimento nos teus olhos. Queria sentir que as tuas mãos também se confortam nas minhas. Queria que teu coração dançasse no mesmo ritmo que o meu. Queria entender... Mas não entendo. E tenho medo. Medo que me reconheças. Que eu seja o teu conforto e o teu ritmo. Medo.

Não, eu não quero que tu esperes de mim o que eu espero de ti. Eu não sou pra ti. Eu não sei ser. Por isso distraio minha mente. E desvio meus olhos da tua janelinha. Por isso ignoro meu coração. E escondo minhas mãos das tuas. É puro medo, amor. Eu queria muito nos reconhecer... Me desculpa. Eu queria, mas não consigo.

* * * * *

Escrevi enquanto ouvia, repetidamente:
Alexandre Desplat


e Dario Marianelli

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu fiquei com um enorme nó na gargant lendo isso, só por sentir coisa parecida no momento. Só por sentir o coração acelerar quando certa janelinha sobe e tentar se conter por saber que nunca daria certo. Muito bom o texto, Lia. De verde.