"E quando você me envolver
Nos seus braços serenos
Eu vou me render
Mas seus olhos morenos
Me metem mais medo
Que um raio de sol"
Tom Jobim.
Ela sabia que não devia, mas queria provocar. Conhecia-o. Sabia que seria fácil. Não por ela. Por ele. Não era o tipo que dificultava. Bastava umas poucas palavras. As palavras certas. E ele cedia. Simples. Sempre fora assim. Não seria diferente dessa vez. E não foi.
Em pouco tempo, ela estava sentada, na portaria do seu prédio. Esperando-o. Experimentando a já conhecida e incômoda sensação de esperá-lo. Mesmo assim, quando chegou a hora, ela entrou no carro sem hesitar. Fez charme. Beijou seu rosto. Reconheceu a música, e sorriu, nervosa.
A noite seguia, e a segurança do início parecia esvaecer com os minutos passados. Sentiu as investidas de sua coragem, louca para correr, sumir dali, abandoná-la. Mas sempre fora assim. Ela sabia. Sustentou-se na cerveja. Ignorou sua consciência. Trancou a coragem. E continuou provocando, sorrindo e tocando. Sem pensar.
A cerveja já era suficiente. A Praça do Carmo já estava quase vazia. O bar Nosso Recanto começava a recolher as mesas. A conta foi paga. E a vontade, já quase transbordando, saciada. Boca. Mãos. Pele... Desejo.
Ela não quer pensar. Só agir. Lembrar. Viver... de qualquer forma. E, assim, se entrega. Não pensa, nem fala. Sente. A barba. A textura. O sabor. O calor que só ele traz. Os arrepios que só as mãos dele provocam. A inflamação que só o amor dele é capaz de lhe dar. Mesmo que por uma noite. Mesmo que vez ou outra. Engana-se e deixa-se enganar. No amanhã, ela pensa depois. Sempre fora assim. Ela sabe...
* * * * *