quinta-feira, 22 de abril de 2010

Os tempos são outros, meu bem.

- Tu és tão legal, que tu viras amiga.

Ouvi isso de uma amiga, uma vez, e fiquei pensando: "como assim?”. Namoradas/gatinhas não são legais? Elas são só menininhas bonitas e femininas, feitas sob medida para que o macho alfa seja o responsável por sua proteção e cuidado? São incapazes de formular frases inteligentes e engraçadas ou rir com o namorado/gatinho por um bom tempo? Caramba, isso é tão século passado!

A meu ver, um gatinho só é gatinho de verdade se me fizer rir. Claro que eu não to procurando um palhacinho de circo pra manter um relacionamento, mas também não tenho tendências "robófilas". Ora, quem quer namorar um cara que não saiba sequer contar uma piada de pontinho? - Tá, piadas de pontinhos são terríveis, mas deu pra entender o meu ponto, não?

Eu não sei o que as pessoas procuram, mas eu não quero alguém que seja simplesmente bonito e másculo. Não sou o tipo clássico de mulher, logo não procuro homem pra fazer o velho "papel de homem", que me proteja das mazelas da sociedade, defenda a minha honra, me banque e me faça pegar cerveja e servir salgadinho pros amigos dele. Foi-se o tempo que isso era ser homem.

Mulher, hoje em dia, se vira muito bem, obrigada, e muito do que a gente espera do sexo oposto é mais pra que eles não se sintam tão desnecessários. Até porque, convenhamos que desnecessários eles não são. É lógico que continuam sendo importantes, mas de outra forma.

Eu não preciso que ele seja de aço, forte e musculoso como o Superman, e sim inteligente. Preciso que a gente venha a somar na vida um do outro. Que ele fale e escreva direito, e seja minimamente educado. Ora, eu sei que as pessoas arrotam, mas precisa executar a Sinfonia nº 27 de Bach no meio do jantar de aniversário do meu irmão? A temporada dos ogros já se foi, há tempos! Sejamos civilizados, sim?

Também não to pedindo um cara que abra a porta do carro pra mim. Isso é muito fácil! O último gatinho que fez isso me largou sem dó nem piedade, simplesmente porque eu não quis dar pra ele (tentem não se ofender com o termo). Então, ao invés de me aparecer vestindo a roupinha de cavalheiro de 1820, tente valer a pena, ok? Isso não é pedir muito.

Agora, sejamos sinceros: "dinheiro é bom, e todo mundo gosta". Mas não, não é necessário que ele seja herdeiro do Eike Batista, e me sustente pro resto da vida. Eu pretendo construir minha bem sucedida carreira profissional e ter meu próprio dinheiro. Mas, também, ele não pode ser um vagabundo esperando ser sustentado. Não sou mãe de ninguém, e meu filho que não se iluda, porque nem ele vai ficar eternamente nas minhas costas. Independência financeira é uma benção, portanto, devidamente abençoado seja.

Por fim, é extremamente importante que os homens entendam: gatinha/namorada/mulher não é serviçal de ninguém. Eu não tenho a menor obrigação de ficar responsável pelo bom atendimento dos seus amigos, quando o meu gatinho/namorado/marido resolve recebê-los para uma maravilhosa partida de futebol. Não to dizendo que sou imprestável ou incapaz de fazer um favor, vez ou outra, mas não me faça de escrava! Eu ajudo, contanto que todo mundo colabore. Portanto, homens, façam o favor de levantar essa buzanfa do sofá e fazer alguma coisa útil, certo?

Então? Deu pra entender? As coisas mudaram, meus queridos. Não pensem que teremos uma vida parecida com as dos nossos avós. Felizmente, pelo menos nessa questão, o mundo mudou pra melhor. Não espero que a mentalidade masculina, no geral, tenha evoluido da mesma forma, mas eu sei que tem aqueles que se salvam. E ainda vou topar com um deles por aí...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Contando com o Tempo

Sentada em uma das cadeiras de plástico da churrasqueira do seu prédio, Lia esperava Daniel. Diferente de todas as vezes que fizera isso, a angústia e tristeza que anteviam aquele encontro a dominavam. Ela engolia em seco, tentando fazer com que aquele nó da garganta descesse goela abaixo de uma vez por todas. E quando Daniel surgiu pela entrada da área da piscina, inquieta, Lia tentou controlar as emoções, disfarçar a dor que sentia e esconder o amor que relutava em se esvair.
Sem dizer qualquer palavra, Daniel aproximou-se, puxou uma cadeira, colocando-se de frente para ela, deu um beijo em sua testa e sentou-se, igualmente tenso. Parecia pronto para falar, mas olhava Lia como quem não ousasse fazê-lo sem sua permissão. Ela, por sua vez, ainda não sabia se estava preparada para ouvir o que ele tinha a dizer. A única certeza que tinha era o desejo de que tudo acabasse logo, e ela pudesse retornar à confortável solidão do seu quarto.
Ele puxou o ar como quem vai começar um difícil discurso, mas Lia o interrompeu.
- Tu preferes falar primeiro? Ou queres que, antes, eu diga o que to sentindo?
- Acho que tu deves falar primeiro...
- Certo... Eu vou tentar ser direta, e te peço pra esperar que eu termine. Eu prometo ouvir tudo o que tu tens pra dizer, mas, por favor, me ouve até o fim, tá?
Ele aquiesceu.
- Eu queria que tu entendesses que eu sei que a gente não tava namorando, mas isso não me impediu de me sentir traída. A ausência de um rótulo de namorada não diminuiu a dor que eu senti, quando te vi ali. Não posso falar por ti, nem sei como tu te sentias ou o que pensavas em relação à gente, mas eu tava contigo. Única e exclusivamente contigo. Então, mesmo que inconscientemente, eu esperava o mesmo de ti, Daniel... Não quero que me entendas mal, eu não ficava por aí fantasiando a nossa relação, mas é natural que a gente espere do outro quase exatamente aquilo que a gente oferece. E por mais que não tenha sido de caso pensado, eu te ofereci um comprometimento sem tamanho, como nunca tinha sido capaz de oferecer. Por isso eu não consigo entender, sabe? É aí que tudo fica confuso, porque eu não vejo o que te levou a fazer isso. A mentir, me evitar e me trair um dia depois de tudo aquilo que foi dito. E eu nem consigo me decidir se eu quero mesmo saber o porquê disso tudo...
De cabeça baixa, Lia não conseguia mais organizar os pensamentos diante de tanta confusão sentimental. Não queria mais olhar praqueles doces olhos castanhos traidores. Mais que tudo, queria não lembrar mais nada.
- Lia... – ele esperou, ela não levantou a cabeça, mas também não interrompeu. – por favor, não fala no passado. Eu sei que errei, mas to aqui pra resolver isso. Não quero que esse seja o fim... Eu pensei que tu tivesses aceitado essa conversa como uma forma de colocar tudo pra trás, mas ta parecendo que esse “tudo” também significa a gente. Não faz isso. Me perdoa. Me dá mais uma chance. Eu quero ser teu namorado, com rótulo, compromisso, tudo. Tu não queres ser minha namorada?
- Queria...
- Não, não fala assim. Caramba, como eu pude ser tão imbecil? Nem eu sei o que me deu na cabeça. Acho que me apavorei. Foi tudo tão rápido... Eu não esperava conhecer alguém, muito menos me apaixonar desse jeito. Em um dia eu me vi completamente encantado por ti, e em uma semana eu já te queria perto de mim, participando da minha vida. Em um mês... Não foi um processo. Foi um atropelo. E, eu sei, a culpa não é tua. Nem sei se existe culpa pra uma paixão... um amor desse tipo! E isso me apavorou. Eu não sabia o que tava fazendo, mas fui um idiota por arriscar tanto por nada. Desculpa, Lia. Me perdoa. Eu fui um idiota, uma criança. Deixa eu te provar que sou mais que isso. Deixa eu tentar ser o cara que tu mereces.
Ao levantar os olhos pra ele, viu o reflexo de suas próprias lágrimas no rosto daquele que tanto amava. Por que tinha que ser assim? Ela podia ver a dor dele. Podia ler em cada traço de seu rosto toda a verdade daquelas palavras. Mas e a dor dela? E todas as lágrimas derramadas por culpa dele? Poderia ela esquecer? Perdoar? Confiar de novo?
Ela esticou a mão, enxugando as lágrimas dele. Passou os dedos pelos cabelos dele, parando na nuca. Aproximou-se devagar, tentando entender o que seus olhos diziam. A mão desceu o pescoço e subiu para a bochecha, repousando ali. E ele fechou os olhos, sentindo, esperando. E ela o beijou, bem de leve. Mas foi o suficiente. O medo tomou conta. A dor gritou. E Lia se afastou.
- Não dá... Eu não consigo. Não agora.