terça-feira, 9 de março de 2010

Reencontro

Ela estava no saguão do aeroporto, sentada em frente ao portão de desembarque. Estava só, e parecia concentrada, calma e serena. Não fossem os constantes olhares furtivos em direção ao painel de informações, qualquer um diria que ela estava simplesmente ali, sem nada ou ninguém por quem esperar.

Depois de um tempo daquela aparente tranquilidade, pareceu que o painel de informações finalmente dissera o que ela queria, e em poucos segundos ficar sentada já não era mais opção. Ficou em pé, preocupando-se em ter absoluta certeza de que tudo estava em seu devido lugar; a roupa, o cabelo, as próprias mãos, que, nervosas, não sabiam mais o que fazer.

Após um tempo, entre esticadas do pescoço e pontas de pé, na busca daquele por quem esperava, ela enfim revestiu-se da calma que antes transparecia, e sorriu. Um sorriso leve, aliviado. Então, percebendo que ele também procurava, mas ainda não a tinha visto, encaminhou-se para o portão, no intuito de ser encontrada.

Quando ele a viu, e abriu o mesmo sorriso leve que ela estampava no rosto, foi, sem correr, o mais rápido que pode ao seu encontro. A gente não percebe, ou talvez ele e ela nem percebessem a urgência que sentiam pela proximidade, pelo toque. E o encontro teve um vestígio de angustia. Primeiro as mãos se encontraram. E então os abraços e beijos rápidos tomaram espaço. Sempre buscando manter o contato, ao mesmo tempo em que os olhos de um tentavam registrar tudo o que podiam do outro.

Logo o que era urgente passa a ser saboreado. Um abraço longo, de olhos fechados. Sentindo a presença do outro. Ele passa a mão nos cabelos dela, respirando fundo, como provando lentamente o sabor do cheiro dela. Ela, com o rosto escondido em seu pescoço, passeia pelas costas dele, repousando, por fim, suas mãos nos ombros dele, em um aperto forte, de quem não quer ficar longe nunca mais.

 chuvaE separando-se, sem deixar de se tocar em momento algum, com um olhar profundamente íntimo, eles seguem de braços dados, como se fazia antigamente, mas mais leve, mais livre, mais ele e ela.

 

segunda-feira, 1 de março de 2010

Quer ver um filme?

 

pedrinho

 

Então, esse é o Pedrinho. Inicialmente, essa é só uma participação, mas quem sabe não rola um espaço "Memórias do Pedrinho", por aqui? Por enquanto, aproveitem esse texto. =)



 

 

É isso. Vou ter que assistir a melhor-comédia-do-século de novo. Não que eu esteja reclamando, mas estava eu com minha McOferta-nº-3-com-coca, alegre e contente, na última sessão de domingo, esperando o filme começar... quando ela apareceu. Nossa, e como ela chorava! Sentou na fila da frente, uma cadeira pro lado direito - como se estivesse sentada ao meu lado, mas uma fila à frente, 'tendeu? -. Então... ela chegou, sentou e chorou.

Era tudo o que eu precisava pra esquecer onde eu tava e pra quê, enquanto mil coisas passavam pela minha cabeça: "Por que?? O que aconteceu? O que eu faço!?"... Ora, o que eu poderia fazer? Só pude assistir a pobre garota chorar. Mas juro que considerei oferecer minha coca-cola. Até a batatinha. Qualquer coisa!

E então me vi fantasiando sobre a vida dela. Imaginando 437 motivos praquele choro descomedido, e 526 formas de fazer com que aquilo parasse... Até que ela foi se acalmando. Os soluços pararam, as lágrimas foram reduzindo até secarem, e alguma coisa arrancou um esboço de sorriso dela.

Fiquei perdido. Me perguntei se ela já conseguira chegar na fase de superar e rir das desgraças passadas. "Ela é rápida", eu pensei. E o sorriso foi se alargando - e eu já pensando que ela era louca -, até que uma gargalhada [essa palavra é ridícula, também acho], e eu me assustei. O que diabos poderia arrancar uma risada daquelas de uma garota que chorava copiosamente havia poucos minutos?? E aí me toquei. Cara, eu esqueci completamente que tava no cinema. E depois ela era a louca...

Acabou que eu perdi o filme. Não consegui desviar a minha atenção dela. Minha curiosidade em torno daquela garota só fazia crescer. Será que ela foi ao cinema com a simples intenção de se animar? Algo como: "muito bem, to triste. To me debulhando em lágrimas, e preciso resolver isso. Hora de ver a comédia-do-século e esquecer a vida". Não consigo imaginar que isso seja realmente possível, mas se foi isso que aconteceu, vou dizer pra vocês, funcionou.

As luzes acenderam. Eu percebi que não tinha visto o filme e que a minha comida já era, mesmo que não lembrasse de ter comido. Ela levantou, passou as mãos no rosto, depois nos cabelos, arrumando-os, ajeitou a blusa, me viu, sorriu e foi embora. Ela foi embora. Assim. Sorrindo!

Eu não sei o que aconteceu ou quem ela é. Não fiz nada pra ajudar. Nem ao menos sorri de volta quando um de seus sorrisos pareceu ser pra mim - desculpa, garota do cinema, tu me pegaste desprevenido -. Mas já sei o que dizer quando algum conhecido estiver triste: "quer ver um filme? Ainda tenho que ver a comédia-do-século".